Olá, pessoal! Tudo bem?
Criamos um novo podcast no Gran e o host é o professor Alexandre Meirelles. Pois bem, fui entrevistado e segue a degravação da nossa entrevista. Para quem quiser optar pelo vídeo, segue-o:
A degravação diagramada também pode ser lida clicando aqui.
Alexandre Meirelles: Olá, pessoal! Sejam muito bem-vindos a mais um Gran Cast, o nosso programa semanal do Podcast do Gran Cursos Online, no qual sempre conversamos com algum profissional do mundo dos concursos para passar dicas para vocês, às vezes de estudo, às vezes sobre a trajetória como empresário, como professor, como pai, e sobre os desafios que foram encontrados na caminhada de cada um, e com certeza trará alguns ensinamentos para vocês. Esse é o nosso objetivo aqui no Gran Cast.
Hoje estou aqui com o colega Rodrigo Calado, que é um dos sócios do Gran. Primeiramente, obrigado por ter criado o Gran, tão sensacional e que tem mudado a vida de muitas pessoas, e por ter me incluído no grupo de colaboradores. Segundo, vamos conversar sobre a sua vida porque eu garanto que há muitas coisas legais para conversar. Obrigado por ter aceitado o convite.
Rodrigo Calado: Obrigado, mestre Alexandre, por ter me convidado também. É um prazer estar aqui.
Alexandre Meirelles: Você é sócio, cofundador e vice-presidente do Gran Cursos Online, membro do Conselho, marido da Fernanda, e pai do Tamir e da Latifa que daqui a pouco está aí para te deixar sem dormir por um tempo. Mas você está acostumado, porque já virou muitas noites trabalhando com TI. Tem 39 anos, e eu costumo chamar você de Steve Gates ou Bill Jobs do Cerrado – mistura dos dois porque você é realmente “o cara”.
Quando eu entrei no Gran, há 5 anos, eu não conhecia você tão bem, e o Gabriel eu conheci uma ou duas vezes quando eu vim para Brasília a pedido dele, alguns anos antes. Se alguém pedisse um resumo dos dois, eu falaria que o Gabriel é mais novo, foi fazer faculdade em Nova York, é filho do Wilson Granjeiro, e o Calado é um cara bom para caramba de TI, meio nerd. O que eu iria pensar? Que o Gabriel é aquele cara despachado, que fala muito, e o Calado é um rapaz calado. Quando eu entrei, descobri que é o contrário: o Calado fala muito, não é calado (só no nome), e o Gabriel é quem era mais tímido e agora está bem mais desenvolto. Então, já que o objetivo aqui do Podcast é falar, eu sei que você não ficará calado. Vamos lá! Onde você nasceu e como começou a sua vida?
Rodrigo Calado: Em primeiro lugar, professor, eu quero dar bom dia, boa noite e boa tarde para todo mundo que está nos assistindo. É um prazer estar aqui. Meu nome é Rodrigo Calado, eu nasci em Luziânia, no Estado de Goiás, numa família de classe média baixa. Minha mãe se chama Vânia, e meu pai se chama Cláudio.
Nós tivemos uma vida muito simples, mas minha mãe sempre priorizou a educação. Então, logo aos 5 anos de idade eu fui para uma escola particular, sempre estudei em uma escola particular em Luziânia, até os meus 17 anos. Aos 16 anos tive o meu primeiro emprego CLT – fui administrador de sistemas de um provedor de internet, e depois ingressei na faculdade.
Alexandre Meirelles: Como você era até seus 10, 12 anos de idade? Você já estava pensando em computador? Gostava de montar e desmontar as coisas? Lia muito? Estudava? Como era?
Rodrigo Calado: Ótima pergunta. Primeiro eu ganhei aquela enciclopédia Barça, não sei se é da sua época também.
Alexandre Meirelles: Eu sou de antes da Barça, da época dos pergaminhos.
Rodrigo Calado: Eu tinha muito interesse em leitura, eu sempre tinha muito interesse em saber como as coisas funcionavam. Então meus pais me diziam, na verdade todos os que faziam parte, eu fui o primeiro neto também, de uma família de 5 filhos da parte do meu pai, e sempre muito paparicado, e eu sempre perguntava “por quê?”: “Mãe, por que o céu é azul? Por que a água corre desse jeito? Por que essa luz liga? Como funciona a eletricidade?”.
Alexandre Meirelles: O meu filho é o rei dessas perguntas. Eu fico louco.
Rodrigo Calado: Mas hoje existe o ChatGPT.
Alexandre Meirelles: E ele já usa.
Rodrigo Calado: Na época, a minha mãe não tinha ChatGPT. Como você pergunta para a sua mãe o que é eletricidade? Eu perguntava por que a luz acendia, e ela respondia: “porque tem energia elétrica, que você aperta um botão e a luz acende”. “Mas o que é energia elétrica?”, e aí eu ia sempre perguntando, querendo saber como as coisas funcionavam. Esse é o primeiro ponto.
Minha mãe trabalhava em um cartório, e no cartório usava-se máquina de datilografia. Chegou um certo momento em que eles disseram: “vamos mudar para computador. Todos vocês vão passar por um curso de informática”. Nem me lembro exatamente qual era o nome do curso, mas eu acompanhava minha mãe nesse curso, porque ela trabalhava de manhã, de tarde, e só tinha alguns dias na semana à noite, e ela não tinha com quem me deixar, e eu ia para esse curso com ela.
Chegando a esse curso, com meus 8-9 anos de idade, minha mãe percebia que eu tinha uma coordenação motora muito boa com mouse, eu também tinha uma coordenação motora muito boa com teclado, e eu fiquei fascinado com o computador naquele momento, vendo minha mãe aprender a utilizar, a largar a máquina de datilografar para ir para o computador. Fiquei fascinado com aquilo.
E aquilo ficava na minha mente, eu pedia para a minha mãe um computador, e ela não tinha condições, porque basicamente todo recurso financeiro da casa – eliminava-se viagens, eliminava-se carro, eliminava-se tudo. Nós tínhamos casa própria, graças a Deus, família de classe média baixa com casa própria, e todo o dinheiro era destinado a colégio particular. Minha mãe não tinha condições de me dar um computador, pois era caríssimo na época. Então, como ela conseguiu me dar um computador? Ela conseguiu me dar um computador por meio de uma rifa, ela rifou alguns vinhos que ela recebia de clientes como despachante fora do horário. E o meu computador foi um 386 SX com uma impressora Epson LX300 matricial colorida.
Alexandre Meirelles: Essa LX300 era famosa.
Rodrigo Calado: O pessoal que está assistindo, que nasceu por volta dos anos 80 até 90, sabe do que eu estou falando.
Alexandre Meirelles: LX300 – aquela bichinha aguentava o tranco.
Rodrigo Calado: Com certeza. E detalhe importante: depois que eu recebi esse computador, eu lutei por uma outra peça. Quando recebi o computador, eu recebi alguns disquetes também, do Windows 3.11, DOS 6.22, eu ficava reinstalando esse negócio e desmontando e montando a máquina. Pensa em um menino de 8-9 anos de idade, para que fazer isso? Mas eu tinha interesse, e fui muito autodidata naquele momento, de desmontar e montar o computador para ver funcionando, porque eu via que tinha parafusos ali no gabinete, e eu tinha aquela chave de fenda, como é o nome daquela chave de fenda que tem uma cruz?
Alexandre Meirelles: Philips.
Rodrigo Calado: Philips. Eu tinha uma chave de fenda, meu pai tinha uma chave de fenda, eu abria, via como funcionavam as coisas, processador, placa de vídeo, placa mãe, memória RAM, ficava tentando entender como se montava aquilo e desmontava, e instalava e reinstalava DOS e Windows.
Como eu estudava em escola particular, eu era um dos poucos de classe média baixa, porque no colégio CVO de Luziânia, que existe até hoje, estudavam filhos de juízes, de promotores, filhos de médicos, de agricultores (há muitos agricultores na cidade). Então, todos tinham acesso fácil a algumas novidades que ocorriam. Mais ou menos em 1994-95 chegou a internet, e eu falava: “meu Deus, não tenho acesso à internet”. “Mãe, eu quero ter acesso à internet, à rede mundial de computadores, os meus colegas já estão falando sobre isso e eu não tenho em casa”. Então minha mãe começou uma luta para comprar um modem da US Robotics naquela época.
Alexandre Meirelles: Exatamente.
Rodrigo Calado: E esse modem foi interessante, porque ela lutou, eu tive esse modem, e com 10 anos de idade eu vi a internet nascer e tive acesso pela primeira vez à internet pelo provedor via BBS Persocom – era o nome do provedor. Foi a primeira vez que tive acesso à internet, ou seja, eu vi a internet nascer no Brasil.
Alexandre Meirelles: E você logo abriu até uma empresa de provedor de internet, de MIRC, algo assim, não foi? Que história foi essa?
Rodrigo Calado: Boa pergunta. Já deu para perceber que eu tinha um fascínio por computador. Na internet, por incrível que pareça, eu não tinha interesse ainda por jogos, eu tinha interesse em como o computador funcionava. E aí eu descobri o MIRC, que se chama Internet Relay Chat, que era um chat por canais. Na época, eu tinha um interesse muito grande em aprender inglês, porque eu tinha colegas que faziam inglês no exterior, e eu tinha um interesse muito grande de fazer.
Você sabe como era na década de 1990. Se dependesse de escola, nós não falaríamos inglês. A escola tinha uma disciplina de inglês obrigatória, mas que você aprendia algumas palavras, mas falar você não aprendia. Porque é diferente das escolas de hoje. Meu filho, com fé em Deus, estudará numa escola que todos falam inglês, então já vai nascer bilíngue. Mas nós, não. Tínhamos que procurar saber. E como eu não fazia um curso apartado, eu encontrei redes internacionais nesse MIRC – a openprojects.net e a freshmeet.net, e eu acessava para poder treinar inglês conversando com as pessoas em canais específicos, falando um pouco sobre linguagem de programação, e ali eu tentava entender o que eu aprendia na escola, o que eles falavam. Na época não havia Google, eram outros buscadores.
Na época não existia Google Tradutor, era muito difícil conseguir fazer traduções como hoje. Então eu aprendi ali na engenharia reversa observando. E aí me surgiu uma ideia, mestre Alexandre: se existe aqui no Brasil tinha Brasirk e a Brasnet – eram as maiores redes, eu pensei: “quero montar uma rede para mim”. Aprendi a programar em C, peguei um RCD feito em C por programadores de Portugal e fiz uma adaptação dele para os objetivos e serviços que eu queria aqui no Brasil, inclusive uma tradução, porque por mais que a língua seja a mesma, há algumas diferenças, há várias nuances linguísticas entre português de Portugal e português do Brasil. Fiz essa alteração e coloquei no ar essa rede que chegou em determinado momento em até 40 mil usuários.
Alexandre Meirelles: Quantos anos você tinha?
Rodrigo Calado: 15 anos.
Alexandre Meirelles: Com 15 anos…
Rodrigo Calado: E era engraçado porque eu tinha que negociar com alguns provedores de internet para colocar o IRCD numa máquina em Linux dentro dessa companhia. E aí eu trocava e-mails, porque se eu fosse falar ao telefone, a pessoa iria descobrir que eu tinha uma voz muito de menino e não daria atenção nenhuma para mim. Mas como a minha escrita era distinta do meu tom de voz na época, era por meio da escrita que eu me comunicava bem e me passava por uma pessoa mais velha.
Alexandre Meirelles: Alguém de fora do Brasil em inglês ou era dentro do Brasil em português?
Rodrigo Calado: De fora do Brasil eram as redes para aprender inglês, mas dentro do Brasil eu tinha que convencer provedores a instalarem a máquina. Era português mesmo e tinha que ser via e-mail, chat. Eu evitava falar ao telefone para não ser descoberto com 15 anos.
Alexandre Meirelles: Aos 18 anos, mais ou menos nessa época, você teve o incentivo do pai de um amigo para abrir uma empresa, e ali você aprendeu como era empreender no Brasil. Como foi essa experiência?
Rodrigo Calado: Para mim, não adianta você entender de tecnologia se você não souber vender e não souber criar produtos. Então eu sempre tive esse tino para empreendedor. É óbvio que temos que ter humildade para reconhecer que no início a gente erra muito, mas eu sempre tive vontade de empreender. Eu montava computadores e vendia na escola no ensino médio, cheguei a vender 4 computadores para colegas. Eu mesmo montava, customizava o gabinete e vendia para os meus colegas.
Alexandre Meirelles: Eu fiz isso também, mas eu já tinha meus 20, 22, não era novinho igual a você.
Rodrigo Calado: Quando eu fiz isso, tinha 14, 15 anos. Eu comprava placa mãe, processadores AMD K62, memória RAM, placa de vídeo. Na época, as placas mães já vinham com tudo onboard, eu montava, empacotava e vendia para os meus colegas com Windows instalado, Office instalado, e dava uma aulinha sobre como mexer em alguns softwares, sobre como usar a internet, na época ainda discada. E eles adoravam. Eu vendi quatro computadores assim. Depois fui trabalhar num provedor chamado LZNET, como administrador de sistemas.
Alexandre Meirelles: Essa do MIRC que você chegou a ter usuários, você quebrou e fechou, aí depois você foi lançar outra jogada?
Rodrigo Calado: Não. Ainda com 18 anos, ainda nessa outra empresa, que eu vou falar daqui a pouco, eu ainda tinha o MIRC rodando. O MIRC encerrou quando eu tinha por volta de 19 anos, quando eu comecei a receber muitos ataques de negação de serviço, que eram hackers atacando, e aí acabou, na verdade, o MIRC no Brasil. Como o MIRC tinha protocolos que não suportavam tanto esses ataques de negação se serviço, que são ataques hackers para derrubar o servidor e deixá-lo inoperante, eu tive que encerrar as operações.
Mas, voltando aos 16 anos, eu comecei a gostar de jogos. Eu jogava Counter Strike em uma lan house que tinha um provedor de internet, e uma vez deu um problema no servidor Linux e eu falei – “vou consertar esse servidor, porque eu preciso jogar e está todo mundo parado aqui.”. Eu fui lá, acessei o console, já conhecia Linux, arrumei o servidor, e o dono da lan house perguntou se eu gostaria de trabalhar lá. Eu falei: “quero”. Ele perguntou: “você estuda de que horas até que horas?”. Eu falei: “Eu estudo de 7 às 13”. Ele falou: “você começa aqui à tarde e vai até à noite, umas 20-22 horas”. Então, aos 16 anos eu tive minha primeira carteira assinada, depois podemos colocar até na tela aqui.
Alexandre Meirelles: Se você falar que tem que colocar, garanto que alguém aqui dentro arranjará um jeito de colocar!
Rodrigo Calado: Então, fui administrador Linux aos 16 anos, e depois, ainda quando eu encerrei o ensino médio, meu melhor amigo, eu tenho 2 melhores amigos de infância: o Thiago e o Maximiliano. O pai do Max, agricultor de soja, muito bem-sucedido em Luziânia, falou “Eu vi que você, Rodrigo, tem tino para empreender e eu gostaria que você abrisse uma empresa com meu filho, que também é inteligentíssimo”. O Max é um gênio, enfim, depois podemos falar um pouco sobre isso.
E aí ele nos deu um incentivo em dinheiro para podermos contratar uma contabilidade, abrir um CNPJ, tudo que se refere à atividade administrativa e burocrática, ele nos deu esse dinheiro, abrimos a empresa, que se chamava RM Hosting – Tecnologia da Informação. Nós hospedávamos sites e eu alugava servidores nos Estados Unidos, em uma empresa chamada FDC Servers, e nessa empresa eu alugava servidores, configurava e vendia hospedagens tanto para pequenos sites quanto para grandes sites. Chegamos a ter 130 clientes, por exemplo.
Alexandre Meirelles: Legal. Isso você com 18 anos?
Rodrigo Calado: 18.
Alexandre Meirelles: E que fim levou essa empresa?
Rodrigo Calado: Boa pergunta. O que foi que aconteceu: eu encerrei o ensino médio com 17 anos, então logo iniciei o curso de bacharelado em Ciências da Computação na Universidade Católica de Brasília, e me mudei de Luziânia para Taguatinga para morar com meus tios.
Alexandre Meirelles: Seus pais continuaram em Luziânia e você veio morar com seus tios em Taguatinga, que é uma cidade-satélite de Brasília.
Rodrigo Calado: Isso. Mudei-me para poder morar com eles em Taguatinga Norte. A Universidade Católica de Brasília era em Taguatinga Sul, eu tinha essa empresa de hospedagem, chegamos a ter uns 130 clientes, e eu precisava complementar minha renda e queria também movimentar meu currículo, então fiz meu cadastro no CIEE, e no dia 20 de setembro de 2004 eu iniciei como estagiário de uma empresa chamada Obcursos, que era um curso preparatório para concursos públicos do professor Granjeiro.
Alexandre Meirelles: Que é o pai do Gabriel.
Rodrigo Calado: Que é o pai do Gabriel.
Alexandre Meirelles: Então você conseguiu o estágio através das vagas do CIEE.
Rodrigo Calado: Do CIEE. Não foi por indicação de ninguém, foi por mérito próprio e quando eu cheguei havia umas 40 pessoas na sala para apenas uma vaga, e a vaga era de 18 às 22 horas para ganhar R$ 380,00.
Alexandre Meirelles: Naquela época devia ser mais ou menos um salário-mínimo?
Rodrigo Calado: Acho que não, acho que era um pouco menos. Eu saía da Católica, ia para lá e depois pegava 2 ônibus para poder chegar em Taguatinga Norte de novo. Às vezes um para a Rodoviária e outro para Taguatinga Norte. E aí minha rotina ficou muito difícil, porque eu estava fazendo faculdade de manhã, estava fazendo esse estágio, tocando a minha empresa, tocando a rede RC, e o meu amigo resolveu fazer o quê?
Alexandre Meirelles: Estudar para concurso.
Rodrigo Calado: Estudar para concurso. E ele foi estudar no Obcursos.
Alexandre Meirelles: O filho do fazendeiro?
Rodrigo Calado: O filho do fazendeiro. O Maximiliano é um gênio, daqueles de o professor estar fazendo um cálculo de derivadas, errar alguma coisa, ele assumir o quadro e terminar a equação, entendeu?
Ele falou o seguinte: “Rodrigo, eu vou estudar para concursos, não tenho aptidão para…” por isso que eu sempre falo que para você ter uma vida extraordinária não depende de ser empreendedor etc., você tem como ter uma vida extraordinária de qualquer maneira. Não é tudo sobre dinheiro. Ele estava estudando Engenharia de Redes e Telecomunicações na Universidade de Brasília (UnB), começou a estudar para concursos e a passar em concursos. Depois que ele se formou, ele foi ser engenheiro de redes e telecomunicações no Serpro, encerramos a companhia porque eu não tinha condições de tocar sozinho, não estava conseguindo prospectar mais clientes e não estava conseguindo tempo para contratar pessoas e formar pessoas, porque isso também é muito importante para você ganhar escala e ficar cada vez mais estratégico. Eu não tive tempo e acabei encerrando a companhia.
Alexandre Meirelles: O que o Max é hoje?
Rodrigo Calado: Hoje o Max continua sendo meu melhor amigo, para a vida toda, desde a infância. Ele é engenheiro de redes de telecomunicações do Serpro, está super bem lá, e tocando a vida dele com uma mulher, dois filhos.
Alexandre Meirelles: Legal, então o estudo valeu a pena.
Rodrigo Calado: A educação, para mim, é o caminho mais importante para a mudança de vida, talvez o único para muitas pessoas.
Alexandre Meirelles: É o que faz a mudança de uma classe social mais rápida e mais abrupta, você consegue sair às vezes de uma classe pobre para uma classe muito boa, com nome no Diário Oficial.
Rodrigo Calado: Eu sou a prova disso. E você também é a prova disso.
Alexandre Meirelles: Você estudou na PUC. Como você pagava a PUC?
Rodrigo Calado: Existia uma bolsa social para quem tinha uma renda familiar de até 3 ou 4 salários-mínimos. A mensalidade, na época, em 2002, era de R$ 1.037,40, era muito dinheiro. E aí eu consegui uma bolsa de 97% pela minha posição no vestibular, porque fui um dos primeiros, e também por essa condição socioeconômica, que inclusive foi daí que o Gabriel e eu tivemos a ideia também de fazer a assinatura social para quem ganha até 4 salários-mínimos de renda familiar, para quem está desempregado e quem recebeu algum auxílio do governo ter oportunidade de ingressar no Gran com um preço mais baixo.
Alexandre Meirelles: Voltando ao Obcursos, que depois virou Gran Cursos, que não tem a ver com o nascimento do Gran Cursos Online. Tirando o sobrenome, é pai e filho, mas são cursos distintos.
Rodrigo Calado: Completamente distintos.
Alexandre Meirelles: O Obcursos era um curso presencial, famoso aqui em Brasília, e você foi trabalhar lá como estagiário na área de TI. Por quanto tempo você ficou no Obcursos e o que você fazia lá dentro?
Rodrigo Calado: Eu entrei no dia 20 de setembro de 2004 como estagiário, então apesar de eu saber programar etc., eu cuidava dos data shows dentro da sala de aula, e eu ficava observando as coisas acontecendo, e quando tinha algum problema no servidor eu me dispunha ali a fazer um trabalho, consertava. Havia um programador de sistemas lá, que era o Vítor, inclusive. Quando ele precisava de alguma ajuda, eu estava à disposição para ajudá-lo. Em três meses o Vitor passou num concurso específico e eu assumi o cargo dele como programador de sistemas. Depois eu fui programador júnior, pleno, sênior, coordenador, gerente, até ser CTIO nessa companhia, e isso foi por volta de 2004 até 2010, por aí.
Depois eu montei uma segunda empresa de desenvolvimento de softwares, que foi a RT7 Soluções em TI. Cheguei a ter grandes clientes, inclusive clientes que fazem construções de estradas e rodagens etc. Foi nesse interim que eu conheci o Gabriel, que também começou a trabalhar na companhia.
Alexandre Meirelles: O Gabriel, acho que tinha uns 14 anos e ia para lá ajudar?
Rodrigo Calado: Sim, a gente se conhece há muito tempo, acho que desde os 14 anos do Gabriel.
Alexandre Meirelles: Você é mais ou menos 6 anos mais velho do que ele?
Rodrigo Calado: Isso. Ele tem 33 e eu tenho 39. São 6 anos de diferença.
Alexandre Meirelles: De lá então vocês começaram, e um belo dia surgiu a ideia de abrir um curso online. Naquela época, pelo que eu acompanhei, antigamente só existiam cursos presenciais. E nas principais “meia dúzias” de cidades do Brasil que tinha essa coisa, era onde o pessoal realmente podia estudar.
Lembro-me que eu fazia cursinho no Rio, e havia uns cartazes iguais de faculdade, escrito “alugo quarto para concurseiro”, alguém que vinha do interior ou de outro lugar para poder estudar e fazer cursinho naquele lugar. Um belo dia começou o curso via satélite, teve o saudoso LFG, que até fechou, existiam outros cursos também, como o Damásio, que eram cursos que você tinha que ir até uma sala assistir à aula que passava na televisão, sendo transmitido de algum lugar. Se você perdesse aquela aula, perdia, porque era só naquele horário que passava.
E depois começaram a surgir os cursos online. Se não me engano, o primeiro foi um no Rio, que foi até mais para área fiscal, Canal dos Concursos, que fechou, e depois já começou a surgir essa coisa de aula online porque antes não havia estrutura, a imagem não chegava para as pessoas assistirem a uma aula. E você e o Gabriel foram quase pioneiros, um dos primeiros a começarem com aulas online no Brasil.
Rodrigo Calado: Sim. O Gabriel foi fazer a universidade em Nova York e teve essa ideia de que o futuro aqui é no online. E eu, trabalhando na companhia do pai dele e já tendo trabalhado na companhia do pai dele com a minha empresa de desenvolvimento de software, sempre tive na minha cabeça que o futuro do aprendizado naquele momento era com consumo de conteúdo sob demanda. Não era um consumo de conteúdo ao vivo que nem você mencionou sobre a LFG, que todo mundo tinha que ir para uma sala numa cidade, e se desse problema no satélite ou chovesse ali na hora, acabava.
Existia esse problema. Como você vai garantir um aprendizado se você depende do alinhamento dos astros para acontecer o negócio? E eu já tinha na minha cabeça que era vídeo sob demanda. E parece que foi uma coisa divina, porque o Gabriel foi negado num estágio no Banco Central, durante as férias que ele passava aqui. Na época também tinha o Ponto dos Concursos, que eu já estava de olho, fazendo engenharia reversa, que era PDF, mas sob demanda; na época também surgiu o Estúdio Aulas, que já estava fazendo algo sob demanda também. E antes de surgirem esses players, eu já tinha isso na cabeça e o Gabriel também, mas a gente não se falava, porque ele estava em Nova York. Nós não nos falávamos e não sabíamos que o sonho um do outro era esse.
Então um dia ele chegou e falou: “Rodrigo, vamos montar o Gran Online?”. Isso foi em junho de 2012. Ali apertamos a mão e selamos uma grande parceria que foi o início de tudo.
Alexandre Meirelles: Ele falou que vocês começaram com um capital que se fosse de 100 mil reais hoje era muito, e que vocês compraram os equipamentos que já tinham uns 5 anos de uso, e aproveitaram algumas salas que o pai dele tinha sobrado ainda do curso presencial do pai para conseguir começar a gravar, não é? Mas ele falou que havia épocas em que realmente o “vermelho” batia, que não tinha saldo no banco. Uma vez vocês entraram até com dinheiro do agiota. Como foi isso?
Rodrigo Calado: Lembrar disso é até interessante, porque vemos o grande hoje, mas não vemos o que aconteceu por trás. Iniciamos com baixo capital, no início eu tinha seis meses para poder construir todos os sistemas e os processos da companhia. E o Gabriel também se esforçando, fazendo faculdade nos Estados Unidos, ele vinha nas férias, ainda faltava um ano para terminar. Nesse primeiro ano de montagem, eu estava aqui no Brasil e ele estava lá.
Alexandre Meirelles: O que mais ou menos cada um fazia?
Rodrigo Calado: Eu ficava na parte de construção de todos os sistemas, a parte de tecnologia toda, criar website, criar o e-commerce, criar o backoffice para todo mundo trabalhar no backoffice, o ambiente de estudos. A parte de backoffice controlava também como os processos da empresa funcionavam, então, eu tinha que conversar com os coordenadores, tinha que conversar com o rapaz do estúdio, sobre qual taxa de bit rate ele vai usar, qual codec, como subir aula, o que ele iria preencher.
Todos esses processos da companhia, quando você está na tecnologia, que você une o empreendedorismo com a tecnologia, a tecnologia está entranhada em tudo. Na época, por exemplo, o Gabriel estava estudando marketing, um caso de sucesso envolvendo uma ferramenta chamada Hubspot. E aí nós dois fizemos o setup dessa plataforma, que é a instalação dessa plataforma na companhia na parte de marketing. Então eu ficava com tecnologia, nos processos do estúdio, e ajudava no financeiro. O Gabriel ficava no atendimento, no marketing e na contratação de professores e no pedagógico. E fomos nos dividindo assim. Por incrível que pareça, essa divisão dá quase metade da companhia – metade para um lado e metade para o outro.
O começo é muito difícil, apesar de que tivemos sinais iniciais de sucesso. Nós tínhamos 6 meses para construir o site.
Alexandre Meirelles: E por que tinha que sair em seis meses? Algum edital iria sair?
Rodrigo Calado: Em julho de 2012, eu comecei a modificar, a preparar servidores etc., ajudando no estúdio, e o Gabriel, do outro lado, contratando professores, e os professores gravando. Nós teríamos que lançar em dezembro, porque em janeiro de 2013 iriam sair três editais importantes: CNJ, PMDF e TJDFT. Eram três editais grandes. E nós só tínhamos dinheiro até dezembro.
Alexandre Meirelles: Era para pagar os funcionários que vocês contratavam?
Rodrigo Calado: Não, para pagar tudo. Não tinha mais dinheiro.
Alexandre Meirelles: Pagar hospedagem, pagar a CLT do pessoal.
Rodrigo Calado: Para pagar tudo. Até para vivermos também, eu não tinha dinheiro para depois de dezembro. Eu morava numa kitnet no Sudoeste. Eu não estava conseguindo trabalhar de dia, porque eu tinha que lidar com as coordenadoras, tinha que lidar com o pessoal do marketing, eu conversava com o Gabriel, tinha uma questão de fuso também, conversávamos muito à noite, tinha que conversar com o pessoal do estúdio, estava ali também em algumas coisas que precisavam ser feitas presencialmente no financeiro etc. Como o Gabriel estava fora e eu estava aqui, eu também ajudava, eu não conseguia trabalhar. Então eu falei – vou começar a trabalhar umas 11, meio-dia, fico até umas 8 da noite conversando com as pessoas, desenvolvendo os processos e montando isso, e de 8 da noite até às 6 da manhã, eu vou programar junto com a equipe.
Alexandre Meirelles: Virou “garoto de programa na madrugada”.
Rodrigo Calado: Na madrugada. Essa coube bem, se não tiver contexto, fica feio para o meu lado.
Mas eu tinha dois programadores comigo. Então eu cuidava da parte dos servidores, começava a escrever as histórias para eles desenvolverem, e esse era o tempo que eu tinha para produzir. Eu fiquei 6 meses assim, fazendo esse trabalho, arrebentei a minha saúde. Depois eu fui parar na UTI, mas isso aí é outra coisa.
Teríamos que lançar em janeiro. Lançamos em janeiro, fizemos duzentos e oitenta e poucos mil reais no primeiro mês, que nos salvou. Isso foi crescendo, mas sempre tivemos vontade de crescer de uma forma muito avassaladora. E então chegou um determinado momento que não tínhamos dinheiro nem para pagar a folha de pagamento.
Alexandre Meirelles: Ele falou que de 2014 para 2015 vocês deram passos maiores que a perna e passaram por dificuldades.
Rodrigo Calado: Passamos por dificuldades. E nessa época também, eu me lembro que eu ia toda sexta-feira ao meio-dia para conversar com o agiota no financeiro da companhia, que a nossa primeira sede foi no CIA, numa cobertura lá que eram, sei lá, uns 8 mil reais por mês de aluguel, um negócio distinto, e toda sexta-feira, ao meio-dia, no horário do almoço, eu não almoçava para me encontrar com o agiota para podermos acertar os juros, que era o que dava para pagar no momento.
Alexandre Meirelles: E por que não pegaram com o banco, e sim com o agiota?
Rodrigo Calado: Vamos lá, essa é uma ótima pergunta. Em primeiro lugar, éramos muito jovens, não tínhamos um histórico de empreendedorismo. Na época, também, as empresas de concursos públicos presenciais estavam passando dificuldades. Então os bancos se comunicavam entre si. Havíamos feito até uma proposta, uma apresentação para o Itaú, montamos uma apresentação para alguns bancos, e o pessoal falou: “Não, vocês não têm experiência, não estamos vendo consistência aqui nos números, não vamos emprestar o dinheiro”. Os bancos fecharam as portas para nós, e tivemos que recorrer a um agiota.
Foi um dos momentos mais traumáticos da minha vida, que eu fiquei uns 2-3 meses, toda sexta-feira, ao meio-dia, me encontrando com o agiota para poder zerarmos essa dívida e sair disso.
Alexandre Meirelles: E vocês começaram a ter lucro logo no primeiro mês, depois tiveram um problema relacionado ao final. E depois, vocês ralaram esse tanto, e depois quando chegou ali em 2013-14, deu para ter alguma coisa de ganho financeiro, e depois entraram numa queda ali no final de 2014.
Rodrigo Calado: Sim.
Alexandre Meirelles: E depois, se não me engano, foi em 2015 que vocês criaram a assinatura e ali deu uma melhorada. Esse foi o retrospecto.
Rodrigo Calado: Sim. O ano de 2015 foi interessante porque ali estávamos vivendo um momento de crise econômica no país. Então, enxergávamos os nossos alunos, a gente tinha vários cursos, eram mais ou menos 2300 cursos por pacote.
Alexandre Meirelles: O que seria “2300 cursos por pacote”?
Rodrigo Calado: Seria um preparatório para um concurso e um cargo. Hoje temos 25 mil cursos, a título de comparação. Na época eram 1200 ou 2000, não me lembro direito, mas era por volta dessa ordem de grandeza. Percebemos que os alunos também estavam comprando vários cursos em sequência, e eles queriam continuar os estudos, mas por conta dessa crise econômica, eles não estavam conseguindo pagar. Então o aluno fazia uma PMDF, queria fazer uma PM Tocantins, queria fazer uma PMMG, ou então entrava numa outra área de tribunal, queria fazer outro tribunal, outros pacotes e não estava conseguindo fazer esse pagamento. E fomos pioneiros nisso.
Eu me lembro que estávamos conversando e nos perguntamos: “E se nós pegássemos o modelo do Netflix de uma assinatura única para acessar todos os episódios, que seriam os cursos?”. Na época foi uma loucura. Internamente na empresa criticaram – “quem é que vai comprar um acesso a tanto material, como vocês organizarão isso?”.
Alexandre Meirelles: E o professor também, porque para ele, se vendeu tantos cursos da PMMG, um percentual é dele. A partir do momento que tem assinatura, o professor perde o controle disso. Então, com certeza alguns professores chegaram para vocês e falaram que isso não iria ser legal.
Rodrigo Calado: Tínhamos resistência de professores, de funcionários, de colaboradores, havia resistência de vários lados. Nos perguntávamos se apenas nós estávamos pensando assim. Estávamos tão convictos de que isso daria certo, que lançamos a assinatura.
Como haveria um modelo de recorrência, tivemos que lançar também, para os professores, uma folha robusta de direitos autorais, porque alguns recebiam por percentual, calculado por meio do acesso, e o acesso era geral. É o mesmo formato da Netflix, o que acontece na Netflix? Você tem um custo de produção. Se muitos assinantes estão assistindo a uma série, aquela série está sendo fonte alta de receita para que você se torne assinante. Há pessoas que só se tornam assinantes para assistirem a algumas séries específicas, e depois vão assistindo a outras.
Alexandre Meirelles: Eu lembro que eu assinei o HBO para não perder Game Of Thrones.
Rodrigo Calado: Então o Game Of Thrones recebeu o royalty específico do seu pagamento. E a mesma estratégia utilizamos para os professores naquela época. Depois que lançamos, fomos muito criticados, mas foi um sucesso financeiro. Eu me lembro até hoje, de um dono de curso preparatório online, dizendo o seguinte: “nós nunca vamos lançar assinatura ilimitada”. E aí, dois anos depois, o mercado começou a se mobilizar para todo mundo lançar, porque quem não tinha estava em desvantagem em termos de produto, e para venda de um pacote só.
A inovação é isso. Inovar é desafiar o status quo, e não inovar por inovar, porque inovar por inovar é vaidade. É inovar para democratizar o acesso, para mudar a vida dos alunos. Democratizar mesmo o acesso, porque a mensalidade era bem mais baixa e dava acesso a tudo. Éramos os únicos ali, o pessoal até falou sobre uma questão de não estar valorizando o produto, essas coisas todas, mas, enfim, depois o mercado todo copiou.
Alexandre Meirelles: Você sempre fala que o Gran é uma EdTech. O que é uma EdTech?
Rodrigo Calado: EdTech, do inglês, é uma fusão de Education e Technology – Educação e Tecnologia. O Gran é uma fusão entre educação e tecnologia. Não existe o Gran sem educação e não existe o Gran sem tecnologia. Ambos andam de mãos dadas. E por que eu falo muito isso? Porque não adianta nada se não tivermos o conteúdo, ninguém vai aprender nada, e não adianta nada se não tivermos uma excelente plataforma, se não utilizarmos a tecnologia para acelerar o aprendizado, se não utilizarmos a tecnologia para individualizar o ensino, para levar esse produto para o aluno, e também para acelerar o aprendizado dele. As coisas são unidas.
Hoje há outros avanços que daqui a pouco vamos falar. Então, quando eu montei a companhia com o Gabriel, quando ele me convidou, eu falei: “Gabriel, eu não quero que no Gran a tecnologia seja commodity, como em outras companhias”. Outras companhias contratam uma empresa específica às vezes até de marketing para fazer o site, contrata um LMS pronto, que é um ambiente de estudos pronto, um EAD Box da vida, e coloca lá. Nada contra um EAD BOX, inclusive é uma ferramenta muito boa, mas olha para a tecnologia como um meio de enviar o conteúdo e acabou. Eu falei: “Não. A gente tem que ser sempre pioneiro”.
Sempre olhávamos para métricas de engajamento do aluno, fomos pioneiros em montar um cronograma de estudos com a invenção do ciclo de estudos, fomos os primeiros a montar um cronograma de estudos automático, que o aluno coloca a quantidade de horas que ele tem para estudar no dia, escolhe o conteúdo específico, e nós, de maneira forçada ali no algoritmo, trocamos a disciplina de x em x horas, para ele poder estudar o máximo de disciplinas possível, dentro da semana.
Então você imagina uma empresa que pensa nisso. Fomos a primeira empresa a lançar um aplicativo com acesso offline. Lembro-me como se fosse hoje, em 2017-2018, não havia cursos online preparatórios para concursos públicos com aplicativos. Lançamos o aplicativo para iOS e Android, sempre com notas bem altas. E até hoje, se você for olhar, não tem ninguém com todas as funcionalidades para você assistir a uma videoaula sem travar, uma videoaula maior, é óbvio que eventualmente tem alguns problemas, temos que ter a humildade para reconhecer alguns pontos, mas um aplicativo que o aluno baixa e tem tudo na palma da mão, com acesso offline, até hoje o Gran é o único que tem.
Nós lançamos depois um aplicativo para TV. Hoje, se você acessar agora no Android e digitar, por exemplo, “Gran Online” e entrar, o aplicativo está com nota 4,9. Se você for olhar outros cursos preparatórios, não terá acesso às videoaulas, não poderá baixar as questões e acessar offline, não terá audiobooks, não terá um gerenciador de estudos, tudo isso que temos construído aqui usando a tecnologia. E é o que eu sempre falo: a tecnologia tem que acelerar o aprendizado.
Se eu pegar o conteúdo seu, da sua aula, e colocar em duas plataformas diferentes, o aluno tem que ser aprovado mais rápido na plataforma do Gran pelos recursos que ela proporciona. Se o aluno está numa academia, ele pode usar os audiobooks para continuar estudando. Se o concorrente não tiver, ele não terá esse tempo. Se ele vai para uma fazenda, ele pode baixar as videoaulas e assistir em modo offline. Se ele quer ter mais disciplina, ele pode usar o cronograma, que vai ajudá-lo a ter disciplina. Se ele quer um sistema de questões, ele não precisa pagar apartado, ele pode usar o Gran Questões.
Então, há um ecossistema completo de tecnologia para ele pagar uma mensalidade só e ter esse sistema com os melhores professores, professores mais didáticos. Enfim, a parte mais importante é o conteúdo, e ele ser aprovado mais rápido.
Alexandre Meirelles: O que significa para você, Calado, inovar em um país que ainda luta com um acesso básico à educação?
Rodrigo Calado: Essa é uma ótima pergunta, porque se formos pensar nas dificuldades que nós temos… um dia eu falei uma coisa nas redes sociais, que eu fui muito elogiado e muito criticado ao mesmo tempo. A frase era “meritocracia é uma ilusão”, mas tinha contexto, não era só a frase pela frase. Mas o que eu estava explicando? Eu falei: “as pessoas largam de pontos diferentes. Você vai ter que correr muito mais do que o seu colega”.
Eu falo até sobre o meu filho agora. Meu filho está com 2 anos de idade e eu percebo o desenvolvimento que ele tem pelos estímulos que eu faço com leitura, pelas competências de algumas companhias que eu contrato para fazer alguns estímulos para ele, ele vai estudar em uma escola bilíngue, em uma escola de outro nível da que eu estudei. Recentemente eu li uma pesquisa sobre a importância do zinco, do ferro e da vitamina D e de outras substâncias para o intelecto. Há uma questão do país onde você nasce. Imagina você nascer hoje na Faixa de Gaza.
Alexandre Meirelles: Se sobreviver, já está no lucro.
Rodrigo Calado: O país em que você nasce, a família em que você nasce, você não escolhe a família em que você vai nascer, então existe uma questão genética. Você não tem noção. Dependendo do DNA que você tem, você já nasce atrás pela genética também. Então eu já falei várias coisas – tem a questão da alimentação, depois tem a questão da educação, porque a educação é dentro de casa, não é na escola, e existe a questão do impulso que você recebeu nas escolas etc. Isso tudo faz muita diferença.
E é o que eu sempre falo para todo mundo: as pessoas não partem de pontos iguais e você vai ter que correr muito mais que o seu colega, e você não tem que pensar em desistir. Porque se for pensar na frase “meritocracia é uma ilusão”, porque realmente não é todo mundo partindo do mesmo ponto, você vai desanimar. Você tem que correr muito mais atrás. E pensando nisso, eu falei – “bom, como eu posso inovar nesse mercado e levar para o Brasil inteiro?”. Hoje o Gran está presente em mais de 4.000 municípios, levar para outros municípios, comunidades com 2000 habitantes, comunidade indígena inclusive, uma plataforma fácil de usar, com um preço acessível, e os melhores e mais didáticos professores do Brasil, com várias formas de conteúdo para eles, entregando inclusive até nos celulares Android com baixa versão. Como eu posso fazer? Isso é inovação, é democratizar, é dar acesso a quem antes não tinha possibilidade de concorrer com outras pessoas dos grandes centros.
Alexandre Meirelles: A criação da assinatura social ajudou bastante, porque pessoas até de muita baixa renda conseguem ser assinantes e terem o mesmo acesso de um aluno que paga o preço normal.
Rodrigo Calado: Com certeza. Hoje eu falo para os desenvolvedores que as nossas plataformas têm que ser compatíveis com as nossas diretrizes de acessibilidade WCG versão 2 ou 3.0. O que significa isso? Significa que, se você é cego e utilizar um leitor de tela, você vai conseguir ler a tela da plataforma do Gran e conseguir utilizar. Ao passo que, se você usa do concorrente, você não vai conseguir usar.
Isso é feito dentro do front end, que é a parte visual, o layout, aquilo que você enxerga, não aquilo que está por trás. Existe um código que você tem que fazer alguns parâmetros específicos que são lidos por esses leitores de tela. Vou dar um exemplo, certo? Se você tem uma instância de um player de vídeo, e essa instância do player de vídeo não tem um atributo chamado out, e esse atributo chamado out, não tem uma frase chamada “esse é o videoplayer do Gran para execução das videoaulas”. Isso não vai aparecer, não vai sair na voz do leitor de tela. A mesma coisa do play, se não tiver o play, pause, e por aí vai. Isso é uma das coisas. Há uma série de outras questões também envolvendo a acessibilidade.
Alexandre Meirelles: O próprio Gran audiobook possibilita que um cego escute os pdfs.
Rodrigo Calado: Com certeza. As próprias legendas, que nós desenvolvemos por meio de inteligência artificial, de aprendizado de máquina, da transcrição do áudio para o texto, também são importantes para quem tem algum tipo de deficiência auditiva. Nós pensamos em acessibilidade para incluir, porque hoje a Organização Mundial da Saúde diz que plataformas que não possuem diretrizes de acessibilidade instaladas em seus códigos excluem 25% da população mundial. Incluir também é inovar. E prezamos muito por isso no Gran.
Alexandre Meirelles: Se você tivesse que criar uma disciplina obrigatória em todas as escolas do Brasil, qual seria e por quê?
Rodrigo Calado: Resolver problemas reais. Eu sei que muita gente vai falar “matemática financeira, educação de finanças, programação”. Você tem que sair da escola aprendendo a resolver problemas reais. São poucas as pessoas que saem da escola capazes de resolver problemas reais. Quando vão para um emprego, às vezes são até aprovadas num processo seletivo específico, mas quando chegam para resolver um problema real, possuem dificuldade de entender.
Eu sempre falo que se você consegue enxergar a realidade ao seu redor, você já está com meio caminho andado, porque há pessoas que têm dificuldades de enxergar a realidade. Vivem no mundo da fantasia, da conspiração, da loucura, e o problema está ali, real, para ser resolvido. E para você resolver o problema, você tem que entender o problema, tem que ter capacidade analítica, raciocínio apurado, uma série de elementos para que você entenda o problema e construa a ferramenta para resolver o problema. Então, a resolução de problemas reais seria uma disciplina que eu alocaria, e eu tenho até o conteúdo aqui para poder dar sobre isso.
Alexandre Meirelles: Legal, nunca tinha ouvido essa sugestão. Até do meu lado de ser auditor fiscal, sempre pensei mais em educação fiscal.
Quando eu entrei no Gran, faz 5 anos agora, foi em maio de 2020, estava começando a confusão toda da pandemia. Como foi lidar com esse desafio, com essas centenas de colaboradores aqui no Gran e centenas de professores em casa também? Lembro-me que recebi do Gran um kit que está comigo até hoje e que eu já falei que enquanto estiver no Gran eu não devolvo, só devolvo quando eu sair, isso se eu não entrar com uma ação ali de usucapião. Um kit muito bom com dois notebooks, câmera, microfone, tudo profissional. Como foi lidar com isso tudo e até depois, um tanto da cultura do home office continuou no Gran, não é?
Rodrigo Calado: Começou o burburinho sobre a Covid-19, em janeiro ou fevereiro de 2020. No final de fevereiro de 2020, eu fui para o Japão. Eu já tinha ido várias vezes aos Estados Unidos, já estou acostumado com oriental usar máscara. Antes da pandemia, eu fui a congressos nos Estados Unidos e eu já via japoneses, orientais de um modo geral, usando máscara. Às vezes eles estavam resfriados, e eles têm muito respeito com outras pessoas, que é uma coisa que eu gostaria muito que fosse uma cultura global.
Alexandre Meirelles: Desde antes da pandemia, se eles já estavam um pouco resfriados, eles já saíam na rua de máscara para não passar para os outros.
Rodrigo Calado: O japonês sempre usou máscara. Se estava com resfriado, colocava máscara. Eu fui pesquisar, e vi que eles tinham esse respeito com o próximo. E aí eu não me atentei muito. Mas eu estava vendo as notícias acontecendo, eu estava no Japão, e vi que tinha um navio específico que já estava bloqueado, ninguém iria sair desse navio no Japão. E eu estava em Tóquio, pensei: “Meu Deus, essa situação está piorando”. Mas eu nem imaginava ainda sobre lockdown, sobre esse cerceamento da liberdade para poder conduzir isso.
Toquei minha viagem numa boa, cheguei do Japão, e me lembro que eu estava aqui na sede, tinha uma série de reuniões no dia, e todo mundo desmarcou. E aí começou um burburinho na empresa: “O Rodrigo estava no Japão; deve estar com Covid”. Alexandre, cancelaram todas as reuniões do dia. Todos estavam com medo de mim, e por onde eu passava eu percebia as pessoas se afastando de mim.
E tinha o Gran Dicas na época, que ia ser uma loucura. Lembro-me que o Ibaneis (governador do Distrito Federal) começou a cogitar proibir shows, aglomerações etc. inicialmente, seja em locais públicos ou internos. Ele começou a cogitar isso e nós ficamos num dilema sobre cancelar ou não o Gran Dicas.
Mesmo antes disso, resolvemos cancelar. Eu e o Gabriel conversamos e chegamos a essa conclusão em conjunto. Eu nem imaginava; para mim, essa situação acabaria em uns 30 dias. Se você me perguntasse assim: vai ficar dois anos e pouco fechado assim? Nunca eu imaginava. Só que pensamos mais longe, fomos meio malucos. Eu falei “Gabriel, o Ibaneis decretou que não pode haver aglomeração. Então agora vamos fazer uma correria junto com o pessoal do suporte técnico, pegar todas as máquinas e levar para a casa dos colaboradores”. Imagina, 300 e poucas pessoas levando máquinas, cadeiras e se instalando em casa. Nem eu tinha uma boa estrutura na minha casa.
Em um final de semana, troquei de apartamento, porque eu pensei: “Bom, se é para ficar em casa, eu preciso ficar mais confortável, preciso ter pelo menos o conforto do meu escritório da companhia”. E então eu falei para o Gabriel: “Como vamos gravar as aulas agora?”. Chegamos à conclusão de montar um kit, montamos um kit de internet, tinha um moldem 3G, dois laptops, um para fazer o streaming, outro para ser usado para como se fosse uma lousa digital, uma câmera de 1080p, instruções para gravar. Nós compramos na época quase uma centena de kits, enviamos para a casa dos professores. Foi um investimento de 1 milhão e pouco.
Nós conversamos o seguinte: “Estamos tirando 1 milhão e pouco aqui do caixa, mas o que vai acontecer? Vamos usar esses computadores, e daqui a 30 dias, quando tudo voltar, usaremos esses computadores para os novos colaboradores que estamos pensando em contratar.” Então, assim, se não tivéssemos uma pipeline de colaboradores, eu não sei se teríamos coragem de fazer isso. E nós fizemos isso logo no início, em março. Eu tenho até uma foto na minha rede social, dia 27 de março, com os computadores comprados. Nós compramos porque havia contratações por vir, e enviamos para os professores. Passaram-se 30, 60, 90 dias, e não estávamos vendo esse movimento nos demais cursos. Fomos inclusive os pioneiros nisso. Continuamos gravando as videoaulas, mesmo nesse momento, com essa atitude depois durou mais de ano.
Alexandre Meirelles: E eu vi tanto na prática como também o Gabriel explicou que boa parte da empresa hoje ainda continua em home office.
Rodrigo Calado: Praticamente 70% da companhia está em home office. Hoje, se você for contratar um desenvolvedor e falar que é presencial, você terá muita dificuldade. Só se você estiver instalado em São Paulo e for uma remuneração muito boa. Falando especificamente de tecnologia.
Alexandre Meirelles: TI se tornou uma cultura já bem enraizada agora.
Rodrigo Calado: Quem diz que está no presencial, eu tenho lá minhas dúvidas. Eu já ouvi casos inclusive de alguns grandes bancos que, apesar de terem a cultura presencial, o time de tecnologia está em home office.
O que nós quisemos fazer de um modo bem expandido? Acreditamos na cultura do home office, estamos até hoje, funciona bem. Acho que depende muito da liderança, do exemplo que a liderança dá, depende muito da cultura da companhia. E hoje 70% dos nossos colaboradores estão em home office. Só não estão em home office os departamentos que não têm como ser, como os estúdios de gravação e o atendimento ao cliente, que precisam dessa presença física.
Alexandre Meirelles: A inteligência artificial, de um tempo para cá, se tornou forte, e cada dia tem uma coisa nova. O que o Gran utiliza de inteligência artificial em alguns dos seus recursos? Para onde você imagina que ainda tem potencial para ir? Como o aluno pode utilizar para os estudos? O que você acha que ela pode influenciar para transformar a educação nos próximos anos?
Rodrigo Calado: Em primeiro lugar, o Gran começou a investir em inteligência artificial em 2018.
Alexandre Meirelles: Bem antes de você ouvir falar em ChatGPT?
Rodrigo Calado: Muito antes. ChatGPT foi em 2023. Eu estava em um evento da Amazon Web Services nos Estados Unidos e havia uma empresa de tecnologia e saúde dos Estados Unidos.
E eu participei de uma palestra em que um executivo dessa empresa afirmava que ele usava aprendizado de máquina usando um software chamado SageMaker, usando os princípios que eu não vou entrar no mérito aqui de aprendizado de máquina, de análise preditiva, e ele conseguia, com 90% de acurácia, de assertividade, prever falhas cardíacas em pacientes.
Pensei: “Existe uma empresa que está usando análise preditiva para prever falhas cardíacas nos pacientes com 90% de assertividade, envolvendo saúde, coração. Por que não podemos usar isso no Gran?”. E logo ali, nos Estados Unidos, eu encontrei um empreendedor que se chama Rafael Marangoni, que inclusive é meu amigo até hoje. Eu falei: “Rafa, além dessa parte de infraestrutura que você está me ajudando aqui no Gran, vamos montar um time de especialistas em aprendizagem de máquina para começarmos a fazer alguma coisa aqui?”. E então fomos para o arroz com feijão. Eu sempre falo que inovar também é fazer um arroz com feijão bom.
Utilizamos a inteligência artificial para legendar as videoaulas, inclusive tem casos de sucesso publicados na Amazon sobre nós. Depois, percebíamos que na assinatura ilimitada nós tínhamos muitos alunos com dificuldade de encontrar um determinado curso. Então, por exemplo, vou falar sua língua aqui agora, depois me corrija se eu estiver errado. Você tem uma pessoa que está se preparando para carreira fiscal, que está estudando contabilidade avançada, contabilidade de custo, direito tributário, legislação tributária, enfim. Você percebe que a pessoa é da área fiscal, certo? Às vezes, dependendo do perfil, se é um perfil muito iniciante, às vezes esse aluno pode não ficar antenado nas possibilidades de editais existentes no Brasil inteiro. E então pensamos em montar um sistema de recomendação de cursos, como a Netflix tem um sistema de recomendação de séries, baseado no comportamento do aluno.
Tivemos muito sucesso com essa ferramenta. Depois percebemos que os alunos, se estudassem um conteúdo específico com o professor Elias Santana, professor Alexandre Meirelles, professor Aragonê Fernandes, professor Érico Palazzo, etc., de determinadas disciplinas, e se surgisse oportunidade de outro edital, mas tivessem outros professores na assinatura, mas dando aquele mesmo conteúdo, eles “bugavam” para poder fazer a comparação.
Então montamos o “dá para conciliar”, que usava a computação de similaridade, com construções de tecnologia, conseguíamos identificar comparando a legenda dessas aulas e, dependendo do percentual de similaridade, inclusive falando sobre semelhança de tópico, conseguíamos entender o teor daquele conteúdo, fazíamos uma comparação, e se desse mais do que 70%, considerávamos que aquele conteúdo estava similar. Isso possibilitava ao aluno ganhar tempo. Ou seja, lembra o que eu falei sobre a tecnologia que acelera o aprendizado? Esse é um outro exemplo. Depois surgiram os podcasts.
Alexandre Meirelles: Eu sou um viciado em podcast e eu estou há um ano perturbando para ter aqui e agora estamos fazendo. Na próxima encarnação eu já prometi que eu vou conseguir ouvir podcasts em inglês.
Rodrigo Calado: É só você se dedicar.
Alexandre Meirelles: Isso eu sei, mas na próxima encarnação já está prometido.
Rodrigo Calado: Vamos resolver isso nessa.
Alexandre Meirelles: Essa agora eu não consigo.
Rodrigo Calado: Você consegue. É porque você não está querendo.
Alexandre Meirelles: É só uma questão de prioridade.
Rodrigo Calado: Acredito muito no poder da transformação do aluno. Você vai conseguir.
Surgiu então esse advento de áudio e fomos criar audiobooks. Já tínhamos os livros digitais, na época. Inclusive, estavam ocorrendo muitos problemas na conversão da palavra para o áudio. Nos reunimos inclusive com um chinês, que era um gerente de produto da Amazon, porque fizemos correções na forma de transformação de um software da Amazon para conversão de texto para áudio na língua portuguesa do Brasil. Ajudamos, inclusive, a aprimorar o produto, e lançamos o audiobooks. Depois surgiu a OpenAI e o ChatGPT. Temos alguns conhecidos que estão no meio do Vale do Silício. Então, antes de isso se tornar um burburinho, já estávamos sabendo que iam lançar essa versão pública.
Quando lançou, eu automaticamente instalei. Havia muita alucinação no início, ninguém estava acreditando muito, porque as respostas não eram tão boas no início, mas depois o negócio foi tomando uma velocidade absurda. E eu acredito fortemente que hoje a inteligência artificial generativa, do inglês NAI, que é um ramo da inteligência artificial, veio como uma transformação para o mundo, como a energia elétrica, como o lançamento da computação, como o lançamento da internet e como o lançamento do smartphone.
E aqui eu faço um convite a quem está nos escutando: você tem que decidir se você quer ser uma pessoa exponencial ou se quer continuar fazendo as coisas como você faz hoje. Se você quer ser uma pessoa exponencial, adote inteligência artificial no seu dia a dia, mas saiba usar. Não deixe o seu cérebro atrofiado, confiando em absolutamente todas as respostas que o ChatGPT e outras dão, porque você tem que usá-las para guiar.
Atualmente, 25% dos códigos que os desenvolvedores utilizam no Gran são feitos por inteligência artificial generativa. Ganhamos 25% de potência. Esse número vai subir para 50% nos próximos anos ou até mais. Os desenvolvedores utilizam a inteligência artificial generativa por meio de engenharia de prompt, para criar código para desenvolver software.
Alexandre Meirelles: De um tempo para cá, estou começando a usar para facilitar minha vida. Nesta semana estava no trabalho, tinha que fazer umas coisas no Excel, e resolvi utilizar o DeepSeek.
Eu fui descobrir mais essa inteligência artificial com o meu filho. Um dia ele estava em casa, e me perguntou sobre um dever de casa de geografia. Eu respondi que não fazia ideia e pedi que ele perguntasse para a mãe dele, e ela falou para ele perguntar para mim. No final, ele utilizou o ChatGPT.
Realmente veio para ficar. A Maia, do Gran também mexe com inteligência artificial?.
Rodrigo Calado: Sim. Hoje no Gran estamos buscando ser uma companhia IA driven. O que significa isso? Significa uma companhia movida por inteligência artificial. Em primeiro lugar, deixo claro para o aluno que está nos assistindo que o professor é insubstituível. Esse é o primeiro ponto. E a inteligência do humano também.
Porém, não faz sentido nenhum usar humanos para tarefas repetitivas hoje. Qualquer tipo de atividade de certa forma muito operacional fazer aquela coisa repetitiva todo dia, isso vai ser automatizado.
Quando olhamos para inteligência artificial generativa, acho que isso tem que estar ao alcance de todos. Darei um exemplo. Temos aqui no estúdio um profissional que foi perguntando para o ChatGPT como ele poderia automatizar a análise de áudio das videoaulas que são gravadas no Gran.
Esse colaborador, que trabalha no estúdio, não é da área de tecnologia, não é um desenvolvedor, mas com as faculdades mentais em dia e usando engenharia de prompt, ele começou a fazer uma série de perguntas para o ChatGPT incansavelmente.
Ele ficou algumas semanas mexendo com isso. Depois ele desenvolveu um scrip que roda na máquina dele quando a quando o arquivo está lá, ele faz uma varredura rápida no arquivo da videoaula e consegue identificar se houve diferenças de ganho de áudio e se há algum problema específico de áudio.
Ele não é programador, mas ele conseguiu desenvolver isso e resolveu um problema real. Não vamos falar aqui de inteligência artificial para criar um joguinho. É um problema real que você tem. E eu tenho convicção de que você que trabalha, de que você que é estudante, você tem formas de se ajudar.
Vou dar um exemplo do estudante que tem várias anotações. Eu conheço vários estudantes, já conversei com centenas de alunos que têm várias anotações. Você pode simplesmente condensar essas anotações, por exemplo, num documento e pedir para o ChatGPT, por exemplo, criar perguntas para testá-lo, criar flash cards, buscar formas de revisão específica.
Recentemente, publiquei 45 prompts para estudantes para concurso público no meu Instagram. Foi um sucesso. Teve mais de 1000 downloads rapidinho. Foram 10.000 visualizações no meu story. E olha que eu tenho 50.000 seguidores, para ter 10.000 visualizações de story com 50.000 seguidores é um absurdo. Foi o meu pico. Prompts para facilitar os estudos. Eu estou falando aqui de anotações, mas há outras ferramentas inúmeras.
Aquele rapaz que passou para um concurso de cartório utilizando ChatGPT, foi estudando e utilizando o ChatGPT como se fosse um copiloto para ele, como se fosse um colega de trabalho, para ajudar a relembrar alguns assuntos, ajudá-lo na revisão, ajudá-lo a criar perguntas em cima das anotações dele, sempre com o contexto dele que ele criou. Porque se você for usar especificamente o contexto que está atualizado até novembro de 2024 do ChatGPT, você tem dados públicos, às vezes muito desatualizados, que não vão te ajudar na jornada de concurso público.
Alexandre Meirelles: E existem plataformas gratuitas, como o DeepSeek. Na passada eu fiz uma coisa que me surpreendeu. Saiu a regulamentação da reforma tributária, a Lei Complementar n. 214/2025. Pensei assim: “a lei tem 500 artigos e agora vai começar a cair muito em concursos fiscais, e não tem questões ainda para resolver porque não teve concurso disso ainda, porque a lei saiu agora”. Então eu escrevi no DeepSeek: “Formule 50 questões do tipo certo e errado, do padrão Cebraspe, dos 10 primeiros artigos da lei complementar número tal”.
Ele respondeu: “Pois bem, eu vou primeiro mostrar cinco perguntas de cada um dos artigos”. Ele pegou o artigo primeiro e fez cinco questões de verdadeiro e falso. Pegou o artigo segundo, fez cinco questões de verdadeiro e falso. Depois, formulou 50 perguntas. misturando os 10 artigos. E eu fui depois revisar, não tinha nada errado.
Rodrigo Calado: O CEO da Anthropic, que trabalhava na Open AI, disse: “Olha, nem nós sabemos eventualmente em alguns casos, o porquê de o nosso modelo de linguagem ampla, que é o LLM, estar colocando aquela letra e não outra naquela composição daquela quantidade de palavras de resposta.”
O CEO da Anthropic, que é PhD, um gênio, inclusive, ele disse que o nível de debug, de depuração dentro da inteligência artificial, nem eles sabem por que está gerando. Se quem está construindo ainda não sabe, ainda tem essa dificuldade de conhecer, de poder calcular essa similaridade, imagina o que tem pela frente sobre isso.
Alexandre Meirelles: Tenho uns grupos de amigos de infância e a gente volta meia manda alguns vídeos de coisas que a inteligência artificial está fazendo. Um dos amigos sempre fala: “Eu já falei que isso é Skynet”. Porque o pessoal da minha geração, principalmente os homens, cresceram adorando o Exterminador do Futuro, o Schwarzenegger. E Skyet foi isso, não é? Acabou o mundo porque os robôs ficaram tão inteligentes que exterminaram a humanidade. Por isso que tem toda a história da volta ao tempo do Schwarzenegger e tudo mais.
Rodrigo Calado: Eu não acredito em teoria da conspiração. Nenhuma. Nem perco meu tempo com isso.
Alexandre Meirelles: Eu também não. Eu penso de brincadeira.
Rodrigo Calado: Mas eu não estou fazendo uma crítica ao que você está falando. Muito pelo contrário, o que você está falando é muito real, dentro de um sentido hipotético assim. E é uma brincadeira também. Eu acredito muito que o futuro de tarefas repetitivas será eliminado. Já tá acontecendo e vai acontecer cada vez mais, que a tecnologia de uma companhia vai virar um novo RH no sentido de área de recursos humanos, gerenciando agentes de TI que serão uma espécie de colaboradores, fazendo algum tipo de análise específica. Então, haverá pessoas gerenciando bots, e esses bots terão um cargo, que vai fazer uma tarefa X específica. Então, haverá colaboradores humanos e colaboradores não humanos.
E eu acredito hoje, inclusive, que dependendo da forma como você constrói esses agentes, você já pode ter, talvez, um desenvolvedor júnior que possa ser um colaborador para aumentar sua capacidade de produção de código, por exemplo. O próprio Mark Zuckerberg já falou isso, que o seu objetivo para os próximos dois anos é de que alguns cargos júniores e plenos de desenvolvedores na Meta já sejam agentes de IA desenvolvendo dentro de contextos distintos na Meta.
Estou falando aqui de curto prazo. Agora, daqui a 10, 20 anos, o céu é o limite e muitas coisas acontecerão. O que eu recomendo? Aprenda a usar as palavras certas para montar um prompt. O que é o prompt? É a pergunta certa que você faz para o ChatGPT ou para qualquer outro modelo de linguagem. Aprenda a usar o seu cérebro para criar as perguntas certas.
Quem pensa bem, pergunta bem, e é isso que você vai precisar para poder entrar nesse mundo. Depois você vai aprendendo, e com certeza vai fazer parte da sua vida e você terá um uma secretária inteligentíssima, poderosíssima, ao seu lado.
Alexandre Meirelles: Há muitos concurseiros já saindo na frente até por estar sabendo usar pelo menos o básico. Já dei o exemplo de formular as questões e tudo mais. Cada vez mais servidores estão usando. Eu trabalho ao lado de um grande amigo que tudo ele pergunta para o DeepSeek e para o ChatGPT. Virou a vida dele.
No serviço público, cada vez mais isso será adotado e já há sérias suspeitas ou confirmações até que as bancas já estão utilizando para corrigir, por exemplo, provas discursivas.
Rodrigo Calado: Eu digo uma outra coisa aqui, vai ser polêmico isso: até pessoas que dizem que não usam, estão usando. Utilize e depois faça uma validação, porque você tem que ter competência na disciplina que seleciona. Quando eu falo disciplina, é conhecimento, não é só para quem é professor. Para você também fazer uma correção. Você também não pode ficar dependente da inteligência artificial, porque há pessoas que delegam o cérebro para a inteligência artificial e viram zumbis. Não é isso. Mas eu não tenho dúvida, Alexandre, de que quem não usar ficará para trás.
Se hoje um desenvolvedor, por exemplo, não estiver utilizando inteligência artificial, ele vai produzir muito menos do que um programador que está utilizando. O servidor também que utiliza, consegue fazer uma validação rápida. O que ele faria em dois dias, ele faz em 40 minutos. E o outro colega que não está usando inteligência artificial vai demorar os dois dias. Quem é que vai ganhar um mérito? Quem vai às vezes sair mais cedo para casa?!
Alexandre Meirelles: E já há concurseiros usando que estão saindo na frente, e com ferramentas gratuitas e que podem ser aprendidas rapidamente. Não é aprender a programar em Python.
Rodrigo Calado: Por exemplo, o tutor 24 horas que lançamos agora, está mais ou menos com 30% das disciplinas acima de 81-82% de assertividade. Ele consome o conteúdo de material de propriedade intelectual dos professores com enriquecimento de contexto. Temos um núcleo de qualidade de uns 50 professores que validam diariamente as respostas do tutor 24 horas, e o aluno tem um tutor 24 horas para ele poder perguntar o que quiser dentro da plataforma hoje, seja de direito administrativo, seja de língua portuguesa, seja de qualquer outra disciplina específica.
Há uma lista de 45 disciplinas que já liberamos, ainda faltam muitas outras. E ele já pode utilizar essa ferramenta em tempo real. “Rodrigo, isso vai substituir o professor?” Não. Vai ter o fórum de dúvidas do professor, e o professor vai continuar dando aulas. Eu acredito muito numa conexão humano-humano, mas estamos desenvolvendo esse tipo de aplicação hoje dentro do Gran. Somos, inclusive, pioneiros nisso. Tivemos nossos erros no passado, estamos corrigindo e avançando nisso. E é sempre calculado para que também não prejudique o andamento do estudo do aluno.
A inteligência artificial veio para ficar, não tem mais como você renegar. O que acontece é o seguinte, a pessoa que não tem competência da disciplina (conteúdo) que está perguntando, às vezes faz uma pergunta específica ou um advogado vai montar uma petição específica e delega todo o seu cérebro para a inteligência artificial, e a inteligência artificial alucina, cria até jurisprudência, cria até ministro. Teve um processo que eu vi num site jurídico que o advogado criou até o nome do ministro do TRF4. Quando uma pessoa foi ler, viu que não existe esse ministro. Eu sou completamente contra isso. Eu acho que essas pessoas acabam deturpando o uso da ferramenta e gerando esse preconceito contra a inteligência artificial em alguma medida. Isso precisa ser combatido, pois é preciso usar com prudência e cautela.
Alexandre Meirelles: Ela ainda dá uma alucinada às vezes. Alucinada, no vocabulário da inteligência artificial, é errar, “viajar na maionese”.
Havia uma frase que eu escrevi e eu não estava com certeza da concordância. E não era uma coisa assim simples, de jogar no Google.
Resolvi jogar no DeepSeek: “O jeito correto de se escrever é A ou B?”. Ele explicou por que era o A e não era o B. Eu ainda fiquei encafifado com aquilo. No dia seguinte, eu perguntei de novo. Ele respondeu: “Tanto faz se é o A ou B”. Aí eu falei: “E agora?” e mandei uma mensagem para o professor Diogo Alves, que falou: “Ele acertou hoje. Ontem ele tinha errado”. Ele deu uma alucinada louca. Mas volta e meia ele acerta.
Inclusive, logo no início eu duvidei muito de exatas, que é mais a minha área, mas é onde ele mais acerta. E um dia até eu vi que pegaram a prova mais difícil exatas que tem no Brasil, que é o vestibular do ITA. Colocaram a última prova do ITA e o resultado foi 100% de acerto. Não errou nada, 100% de acerto nas questões do ITA do último vestibular.
Além da área de concurso do Gran, há alguns anos vocês investiram em pós-graduação, faculdade e tudo mais. Eu perguntei ao Gabriel mais ou menos quantos alunos já passaram aqui pela pós. Ele falou que já passou de 100.000 alunos. É muita gente. Onde você estava com a confiança de que a plataforma aguentaria isso tudo? Porque é muito acesso de uma vez só. Você pensar em 800.000 alunos ativos misturando, até se amanhã dobrasse, continuaria funcionando normalmente?
Rodrigo Calado: Continuaria. Um diferencial do Gran, e estou falando com a maior clareza aqui e buscando uma autocrítica também, é que o Gran já nasceu com tecnologia no DNA.
Ele é uma empresa nativa digital, não é uma empresa que era do presencial e se transformou em online. Nada contra isso, mas já nascemos com espírito de tecnologia e escalabilidade, espírito de segurança. Só para você ter uma ideia, já nascemos com computação na nuvem e aplicação para nos protegermos de ataques de segurança, coisas que o fundador, um dos sócios, tem que entender para isso acontecer. Isso nos ajudou nessa jornada. Hoje temos 800.000 alunos ativos pagantes. Figuramos no top três dos sites mais acessados. No mês passado foram 5.600.000 pessoas que passaram pelo site (visitas únicas). São mais de 25 milhões de visitas no nosso site. É extraordinário.
Qualquer coisa que se fale sobre educação e acesso, é o Gran. São 4,2 milhões de downloads dos nossos aplicativos. Você pensa, você tem 800.000 alunos ativos pagantes, já passaram mais de um milhão e meio de alunos pelo Gran. Você tem 3 milhões de questões, cada aluno responde a uma grande quantidade de questões. Imagina a combinação disso. É um negócio exponencial.
Temos 200.000 videoaulas, são um petabyte de tráfego armazenado e mais de 48.000 livros digitais. Temos uma robustez muito grande de material de propriedade intelectual e sistemas construídos de maneira escalável para que possamos alavancar essas novas verticais como o ensino superior, e suportar isso. E não só isso. Não é suportar só o que temos hoje, mas suportar daqui a 5 anos. Quantos alunos teremos? 2 milhões, 3 milhões? Então, já estamos preparados para suportar esse crescimento do Gran nos próximos 5 anos, 10 anos. E isso é escalável.
Alexandre Meirelles: Mudando de assunto. Logo que eu entrei no Gran, há 5 anos, eu fui querer conversar com você, para passar algumas novidades do mundo dos concursos. Enviei uma mensagem na época, e falei: “Calado, sou o Alexandre Meirelles, estou começando aqui no Gran coordenando a área fiscal. Você tem um tempo para conversarmos? Você respondeu: “Claro, agende com a Fran, minha secretária”. Enviei uma mensagem para a Fran, falando: “Fran, você não me conhece, mas eu sou o Alexandre, tem um horário?”, ela marcou com você na quarta-feira das 19:25 às 19:50. Eu olhei assim, eu falei: “esse cara é doido, não é possível”. E na época eu te passei uns artigos para ler. Depois, não lembro depois de quanto tempo, você me mandou uma mensagem falando que tinha olhado na sua agenda e reservado 40 minutos do seu sábado para ler o artigo. Eu fiquei olhando e pensei que você fosse de outro planeta. É impressionante a disciplina que você e o Gabriel têm. São pessoas bem disciplinadas, e o concurseiro precisa ser disciplinado. Que dicas você daria de disciplina para o concurseiro?
Rodrigo Calado: Essa é uma ótima pergunta, Alexandre. A disciplina precisa fazer parte da cultura da sua vida. E não é só a disciplina nos estudos. Eu vou dar um exemplo prático aqui. Eu marquei um almoço, na verdade marcaram um almoço entre os amigos de infância da escola, do CVO, em Luziânia. E esse almoço seria ao meio-dia, foi colocado o horário como meio-dia. Eu cheguei ao meio-dia no local e não havia ninguém. As pessoas foram começando a chegar por volta de 13h-13h30.
Eu cheguei ao meio-dia, pedi meu almoço e comi. Depois eu conversei com algumas pessoas e saí, e acho que não tinha chegado talvez 30, 40% das pessoas. Isso já aconteceu várias vezes comigo. Existe um problema cultural sobre esse tema, mas você precisa absorver para você. Não quero ser diferente ou melhor do que ninguém, mas eu preciso respeitar o meu tempo. Eu ouvi de um amigo meu, que é disciplinado com tempo: “Rodrigo, você precisa fazer sua agenda para você não virar a agenda dos outros”.
Alexandre Meirelles: É conhecida essa frase. Se você não tem seus horários, os outros é que vão fazer os horários em cima de você.
Rodrigo Calado: Sim, os outros vão administrar sua vida. Então, se você quiser falar comigo alguma coisa, eu vou ser o primeiro a olhar para a minha agenda proativamente, vou te passar os meus horários. Se esses horários não te atenderem, com certeza arranjaremos uma forma de conversarmos, mas eu tenho uma iniciativa de passar os meus horários.
Eu acho que quem está estudando para concurso público tem um problema, que é o tempo. O tempo tem 24 horas, você faz uma série de atividades. Às vezes você é mãe, às vezes você está num emprego específico e só tem um horário para estudar fora do horário comercial. Enfim, você tem dificuldades inclusive até de concentração na sua casa com barulhos de vizinho. Então você precisa ter uma boa gestão de tempo. Isso não é da noite para o dia.
Eu não era uma pessoa disciplinada. A procrastinação está no DNA de todo mundo. Eu sempre fui uma pessoa que deixava para a última hora. E quando eu aprendi isso, a minha vida mudou. Acho que esse é o primeiro ponto aqui. O segundo ponto para você, aluno que está nos assistindo aqui agora: você não precisa ser um empreendedor, você não precisa ser um influencer, você não precisa ter um cargo importante para ter uma vida extraordinária. Já passei por várias classes sociais, e posso falar para você com clareza: se o seu objetivo é passar em um concurso público, seja no cargo que for, dedique-se. Não desista. Pode parecer clichê falar sobre não desistir.
A motivação é sua conta bancária. A motivação é você simular uma pessoa que você ama, que vai precisar de um hospital e você vai ter que encarar às vezes o hospital público que não tem vaga, e às vezes essa pessoa pode ter um problema sério porque você não tem um dinheiro guardado para poder cuidar da saúde de quem você ama.
A motivação pode ser o filho que você tem, que você queria que estudasse numa determinada escola, mas você não tem condições e ele estuda numa escola inferior, porque para mim a maior decisão que você tem que tomar para o seu filho é onde ele vai estudar. Ele vai passar dos 4 anos de idade aos 17 numa escola.
Então você olhar para a sua conta bancária, para a sua vida, às vezes você vai ao supermercado e tem que saber escolher porque as coisas estão muito caras. Essas são as motivações. Não existe outra motivação que não seja isso. Use isso como um combustível para traçar um plano de longo prazo. Se você está tendo muita dificuldade ou não está passando em um concurso público, estabeleça um plano de longo prazo: “daqui a 3 anos estarei preparado para passar em concurso público.” Comece hoje, não desista. Doe-se para aquele projeto, custe o que custar. Abdique do que for necessário, mas depois você vai ter uma melhoria de vida significativa. E você não vai melhorar só a sua vida. Você vai melhorar a vida de gerações, porque as pessoas vão se inspirar em você, seus filhos vão se inspirar em você, a sua família vai se inspirar em você e você vai mudar a vida de muita gente. Acho que é isso que eu tenho para dizer aqui para os alunos.
Alexandre Meirelles: O concurseiro tem que ser disciplinado, não tem jeito. Eu sou indisciplinado com muita coisa, mas no estudo eu fui muito disciplinado. E quando eu era fazia faculdade, eu fiz faculdade de computação na UFRJ, mas nunca trabalhei, não levava jeito para a coisa, ao contrário de você. Eu fiz um estágio na ESSO, antigamente havia quatro postos de gasolina no Brasil: Petrobras, Texaco, ESSO e Shell. Em todas as salas da ESSO havia uma plaquinha escrito assim: “hora é hora, antes da hora não é hora, depois da hora não é mais hora”. Eu nunca esqueci isso, e hoje eu sou chato com compromisso.
Você já teve contato com muitos concurseiros ao longo desses anos todos. Qual é o perfil que você enxerga nos concurseiros de sucessos que colocam o nome no Diário Oficial?
Rodrigo Calado: Primeiro que eu vou excluir os gênios aqui, não é?
Alexandre Meirelles: Eles nem precisam estar ouvindo o podcast.
Rodrigo Calado: Concordo com você. Sobre o perfil dos, já fui a Gran Dicas no país inteiro, então logo depois do Gran Dicas, as pessoas querem tirar fotos conosco, querem conversar, fazer uma sugestão, um elogio, uma crítica, vamos conversando. Há o próprio Canal Imparável do Gabriel, em que eu assisto o depoimento dos alunos.
Quando estávamos aqui na sede, centenas de alunos vinham gravar depoimentos aqui, e eles iam primeiro para a sala do Gabriel e depois para a minha, conversávamos, trocávamos ideia, tirávamos fotos etc. O que eu percebia na maioria deles, e estou falando aqui dentro do universo do Gran, é que muitos deles estudaram em escola pública, muitos de classe média baixa, até de classe D, mas tinham uma força de vontade de “morder a mesa”, como se fosse a única coisa que eles tivessem para a vida deles.
Eles querem a estabilidade, o concurso público, aquele cargo, fazer uma prova que não vai olhar para cor, sexo, para nada, vai olhar para a bolinha que eles rabiscam gabarito, a nota que eles tiraram. O aluno precisa ter essa força de vontade e ele precisa ir até o fim. Eu falo uma frase em todos os Gran Dicas: Existem dois tipos de concurseiros, os que passam e os que desistem.
Alexandre Meirelles: Verdade. Pegando outro gancho aqui, quais foram os momentos mais difíceis da sua vida, sejam ligados ao Gran ou não, pode ser aspecto profissional, financeiro, saúde, alguma coisa assim? Você teve algum momento aqui no Gran de pensar que não deveria ter aberto este curso?
Rodrigo Calado: Essa é uma pergunta muito ampla, porque tem um aspecto pessoal e um aspecto profissional. No aspecto pessoal, eu sofri um atropelamento aos 12 anos de idade. Fui parar no hospital de base, fiquei praticamente 35 dias internado. Tive múltiplas convulsões, um coágulo no cérebro de 3 cm, praticamente. Foi um milagre ter sobrevivido a isso. Não quebrei ossos, mas o impacto foi tão grande na cabeça que gerou um coágulo. Então eu tinha alucinações, tinha convulsões e era certeza de que eu teria algumas sequelas, e graças a Deus isso não ocorreu. Então, por um milagre isso não ceifou a minha vida, seja a vida como um todo, seja uma vida menos restritiva.
Eu sempre tive muita ambição, sempre tive ambição no sentido positivo da palavra, sempre estive em ambientes de pessoas que claramente tinham uma classe social acima da minha. Eu brincava que eu era o mais pobre da sala. Tinha uma ambição muito grande e tentava de todas as maneiras ganhar dinheiro, usando o conhecimento e a honestidade também. E era muito difícil, eu sabia as dificuldades de empreender no país. Quando eu fui empreender pela primeira vez, eu tive um baque muito grande quando eu fui encerrar o CNPJ da RM Hosting. Por que, para mim, onde está o grande sucesso de um empreendedor? Primeiro, quando ele sabe construir um bom produto, um o mínimo possível ali para ele poder colocar no mercado com diferenciais. Mas o principal é ele saber vender aquele produto e expandir. E depois que ele vendeu aquele produto, ele saber contratar as pessoas certas para ele poder ficar mais livre e essas pessoas tomarem conta do produto, e ele ir crescendo. Na RM Hosting, eu não fui para essa terceira parte que era de contratar mais pessoas. Eu falhei nisso. Isso me doeu muito. Cheguei a pensar que eu não poderia ser empreendedor de novo.
Foi aí que que eu que nasceu a RT7 Soluções em TI. Eu cheguei a ter 10 desenvolvedores trabalhando comigo e já foi um passo significativo para mim na época, porque para quem não tinha colaboradores, dar um passo desse e a empresa já conseguir andar sozinha, isso foi muito, muito importante para mim, levantou minha autoestima. E quando o Gabriel me chamou para cofundar o Gran junto com ele, para mim foi extraordinário, porque nós unimos as nossas competências.
Dito isso, concluindo ali os problemas que eu passei pessoalmente, eu me desgastei muito para poder fundar o Gran. Eu trabalhava a madrugada inteira e trabalhava aos feriados. Minha família sabe disso. Inclusive, nunca fiz um tratamento psicólogo, mas eu fui uma vez ao psicólogo e na primeira consulta ele disse que eu era um workaholic.
Eu sempre fui workaholic e sacrifiquei minha saúde a ponto de em um determinado dia já no gran, eu ir parar na UTI. A minha pressão baixíssima, ninguém tinha acesso a mim e praticamente dormi umas 48 horas na UTI. O meu organismo estava se desligando. E aquilo para mim foi muito traumático, porque eu percebi que não era uma máquina. Depois eu tive outros episódios também de problemas com relação à saúde, porque eu sempre trabalhei muito, sempre fui muito forte para o trabalho, mas eu avançava a linha limítrofe sobre esse tema.
Em relação ao Gran, por vários momentos eu já tive algumas crises de choro. Eu entrava no carro, chorava, dava aquele grito e uma hora depois saía, nada aconteceu, bola para frente. Inclusive, naquela época do agiota eu tive herpes zoster e tive um caroço dentro do braço, tudo por causa do estresse absurdo. Foi uma época muito difícil para mim.
Houve uma outra época também dentro do Gran, em 2017, que sofremos um processo, e eu me lembro claramente até hoje, de que a Fernanda estava no supermercado comprando algumas frutas. E ela falou: “Amor, o cartão não passou”. Quando acessei minhas contas, estavam bloqueadas, e o gerente do banco informou que havia uma restrição judicial nas contas. A Fernanda teve que deixar as frutas lá no supermercado porque não tinha outra maneira de pagar. Foi traumático para ela. Além disso, o carro não tinha gasolina também para voltar, e ela não tinha condições de abastecer.
Depois, eu fiquei sabendo que existia um processo bem difícil para nós, uma grande dívida que inclusive já pagamos. Aquele foi o único momento, que eu, vamos dizer assim, por um segundo, me perguntei se estava fazendo a coisa certa. Mas o propósito de mudar vidas era grande, e muitas pessoas dependiam de nós.
Eu tenho uma característica muito forte e não falo nem de disciplina, eu falo de antifragilidade mesmo: não adianta você ser resiliente, você tem que melhorar no caos. E foi aquilo que aconteceu. Pegamos esse episódio, eu me lembro como se fosse hoje, eu entrei na sala com o Gabriel, pegamos um na mão do outro, oramos um pai nosso juntos, falamos que iríamos conseguir superar isso, e superamos.
Houve outros momentos mais difíceis, mas não tantos quanto esse, momentos, de você demitir uma pessoa de um cargo muito importante, momento de você reincidir contrato com fornecedores que tinham meia década dentro do Gran e que era necessário você reincidir, e saber usar as palavras certas nesse momento também era muito difícil.
Passar por um processo de investimento, como nós passamos, de captação de recursos, em que conversamos com inúmeros investidores, e depois escolhemos o BTG para fazer o investimento dentro do Gran. Tivemos vários momentos ali difíceis e desafiadores como empreendedores e que fomos superando, fomos resilientes, porque a responsabilidade é grande.
Alexandre Meirelles: Qual foi a decisão mais difícil que já tomou aqui no Gran?
Rodrigo Calado: Tive uma decisão que foi muito difícil, mas essa é confidencial, e espero que em algum momento eu possa falar sobre ela. Mas eu acho que o Gran é o que é por causa das pessoas que estão aqui, é por conta de você, dos professores, dos colaboradores, do operador de estúdio que está aqui fazendo essa transmissão ao vivo agora.
Acho que nós somos pessoas servindo pessoas, e uma das decisões mais difíceis que eu tive na minha carreira foi no início, em que eu desliguei um amigo meu. Tínhamos uns 15 colaboradores dentro do Gran. Ele estava passando por um momento de dificuldade e ao mesmo tempo não estava rendendo, e o Gran estava num momento que exigia muito, era uma questão de vida ou morte.
Quando eu desliguei o CFO (diretor financeiro) da companhia para contratar um novo CFO também foi um momento difícil, não por questões de problemas na companhia, muito pelo contrário. A companhia vai muito bem, mas para evoluir ainda mais, a gente quer buscar futuramente um IPO, e foi uma decisão muito difícil.
Outra decisão muito difícil foi vender parte das nossas ações. Eu e Gabriel éramos os únicos acionistas.
Há anos que eu deixei de ser CTO (diretor de tecnologia), que foi uma outra decisão muito difícil que eu tomei. Eu fui diretor de tecnologia por 10 anos da companhia, e tecnologia é minha paixão, mas para o bem da companhia e para eu focar ainda mais nas questões estratégicas, no crescimento da companhia, na inovação e nas vendas, eu deixei de ser CTO. Eu considero que essa foi uma das decisões mais difíceis que eu tomei dentro do Gran.
Alexandre Meirelles: Você teve que lidar com culpa de fazer isso?
Rodrigo Calado: Em vários momentos eu achei que estava fazendo a coisa errada. De certa forma, não é que você acha que está fazendo uma coisa errada, é que você tem um receio e um certo medo de estar tomando uma decisão que poderia ser outra, mas que não vem à cabeça. Eu acho que no momento que você decide que você não pode ser mais várias pessoas ao mesmo tempo, você não pode mais acumular vários cargos, você fica com aquele sentimento de culpa. Você fica com aquele sentimento de culpa quando está viajando, por que poderia estar trabalhando. Eu fiquei uns 7 anos praticamente sem férias nenhuma, trabalhando todos os dias. As minhas primeiras férias, eu fui com um sentimento de culpa e falei para a Fernanda: “Amor, não posta nada. Vamos ficar aqui como como se não estivesse acontecendo nada, porque eu não me sinto bem. Eu aqui na praia ou em Dubai e os colaboradores trabalhando. Mas ela falava assim: “Mas poxa, você trabalhou tanto para conquistar isso e todo mundo também tira as férias. Você tem que aproveitar suas”. E eu ficava nesse receio todo. Enfim, a vida não é fácil, mas também não estou aqui para reclamar.
Alexandre Meirelles: Em um dos encontros do Gran, estava a Fernanda, sua esposa, e a Fran, que agendava seus horários. Eu perguntei para Fernanda se a Fran também tinha que marcar os horários para vocês se falarem.
Rodrigo Calado: Engraçado, não é? Chegamos numa situação em que minha esposa fala com a minha secretária para que ela consiga ajustar os horários para eu poder ir ao médico com a Fernanda.
Você falou de problemas pessoais. Para mim, o pior deles foi o que eu vivi recentemente, inclusive com a Fernanda, onde o colo do útero abriu e ela fez uma cirurgia complicadíssima. A chance de a Latifa sobreviver era 1 em 300. Eu respeito quem tem crenças diferentes, eu respeito a não crença, mas eu não posso deixar de falar da minha fé – esses milagres me moldaram e me trouxeram até aqui também. Porque a partir do momento que você tem que fazer uma cirurgia e que as chances são de 1 em 300 de sua filha sobreviver, e deu tudo certo nessa cirurgia, temos muito o que comemorar
Alexandre Meirelles: Isso é um milagre total. Que bom, Latifa está vindo aí. Uma vez, Calado, você falou para mim que teve um desempenho ruim no palco e que você falou: “Eu não posso fazer isso com o tempo das pessoas, não posso brincar com o tempo das pessoas”, e você passou a se preparar muito mais. O que você aprendeu sobre comunicação, sobre presença, depois dessa experiência? E como foi isso?
Rodrigo Calado: Eu sempre fui muito desenvolto na fala. Eu era representante da turma. Aos 5 anos de idade eu era o orador da turma. Eu recebi um papel, decorei e falei ali na formação do pré-escolar. Eu sempre apresentava todos os trabalhos e sempre fui uma pessoa extremamente desenrolada para falar, para vender, para transmitir um conteúdo. Quando eu cheguei ao Gran, eu pensei: “Bom, a gente vai fazer algumas apresentações para a companhia como um todo, discursos que são dados em diversos momentos”. E teve um momento em que eu fui fazer um discurso e não me preparei para esse discurso. Eu havia pensado: “Bom, eu já sei mais ou menos o que eu vou falar, e na hora o cérebro vai funcionar bem e eu vou concatenando as ideias falando”. Eu tive que encurtar a minha fala porque me deu um branco no que eu ia falar. E eu sou humilde para falar isso, com toda a humildade do mundo, foi um discurso péssimo, na minha opinião. Algumas pessoas nem perceberam. Mas eu sou uma pessoa autocrítica, e tenho uma competição comigo mesmo. Então eu pensei: “Olha, a partir de hoje eu nunca mais, por mais que acredite que eu seja desenvolto, vou deixar de me preparar para algo.” Eu contratei uma pessoa para me ajudar com oratória. Fiz curso de oratória. Eu contratei também uma pessoa para me ajudar com os gestos durante o processo de uma conversa e de uma transmissão ao vivo. E eu tomei uma decisão também de fazer uma oração antes de cada momento que eu vou me expor, porque eu acredito muito que o tempo é muito valioso e se as pessoas que estão aqui assistindo esse podcast, assim, estão dedicando o tempo delas, eu tenho que ajudá-las de alguma maneira para fazer valer esse tempo.
Alexandre Meirelles: Você já parou para analisar tudo que você conquistou? Você se considera uma pessoa de sucesso? E o que que é sucesso para você?
Rodrigo Calado: Essa é uma ótima pergunta. Eu confesso que gosto de usar o passado como forma de extrair dados para poder trabalhar no futuro, mas eu não sou aquele tipo de pessoa que fica olhando muito para o passado. Então, se você for me perguntar se eu me considero uma pessoa de sucesso, eu acho que sim. Porque milhares de vidas são transformadas dentro do Gran por conta de um pedacinho do meu trabalho, por conta desse sonho que o Gabriel e eu iniciamos e que hoje é tocado por mais de 1000 colaboradores do Gran, mais de 500 professores, são inúmeros fornecedores, são 800.000 alunos ativos pagantes. Então, se estamos fazendo esse trabalho bonito de mudança de vidas, eu me considero uma pessoa de sucesso.
Agora, a definição de sucesso para mim está a partir do momento que cada um de nós aqui utilizamos nossa vida para melhorar o mundo, nem que seja 1%. Você não vai resolver o problema do mundo. Mas se você se dispuser a usar um pouquinho da sua competência, um pouquinho do que você tem para melhorar um pouco o mundo, se a sua presença física na Terra, em alguma medida, está melhorando a vida de uma pessoa, eu acredito que essa é uma definição de sucesso,
E mais do que isso também, hoje eu dentro da minha vida, eu procuro muito estreitar laços com a minha família, com os meus amigos, procuro muito estar presente na vida deles, procuro investir o pouco do tempo que eu tenho com bastante qualidade com a minha família, com meus filhos. Porque se eu cheguei até aqui, foi porque os meus pais investiram em mim, foi porque a minha esposa lá atrás, há 15 anos, quando o Gran não existia, apostou em mim.
A minha esposa deixou de ter uma vida profissional para poder me ajudar a construir o meu sonho. Imagina você tem uma esposa que é formada em administração, que era gerente de uma empresa, e deixa de trabalhar para acreditar num sonho seu, e em alguma medida se anula para poder ajudar você a tomar as melhores decisões na companhia. Isso para mim não tem preço nenhum que pague. Eu sou muito grato à Fernanda. Ela é a peça fundamental em tudo isso que foi construído dentro do Gran. Se não fosse por ela, eu não estaria aqui. Ela extrai a melhor versão de mim e me deu o que é de mais valioso no mundo, que são dois filhos: um que está com dois anos, que é o Tamir, e a Latifa, que está por vir em breve, e eu estou louco para conhecê-la. E a família é a base de tudo.
Alexandre Meirelles: O que que o sucesso não compra de forma alguma?
Rodrigo Calado: Alexandre, numa sexta-feira, numa consulta eventual de rotina da minha esposa, estávamos superfelizes para ver a Latifa, e a médica disse: “Seu colo do útero está aberto, você tem que ir imediatamente para o hospital e ficará em repouso absoluto até a sua filha nascer. Mas da forma como o seu colo do útero está aberto, essa bolsa pode romper a qualquer momento. As próximas 48 horas são cruciais e você pode perder sua filha.”
Eu sou muito cartesiano, mas eu também sei reconhecer os sinais espirituais que ocorreram comigo. E esse para mim foi um sinal espiritual. Termos ido lá, para mim, não foi por acaso.
Fomos para o hospital, a médica procurou inúmeros médicos. Não importa o dinheiro que você tem, Alexandre, não dava para resolver esse problema. A chance era de 1 em 300. Para mim a arma mais poderosa foi a minha fé de pedir a Deus que salvasse a Latifa. A médica estava dificuldade de encontrar pessoas para fazer cirurgia, porque ninguém queria fazer essa cirurgia com ela, que precisaria de mais três médicos: uma pessoa para ajudar a fazer a cerclagem heroica e dois outros médicos para poder um ficar com ultrassom na barriga e o outro ficar com a agulha para fazer uma drenagem do líquido amniótico, para poder ver se essa bolsa protusa do colo retornaria para que se pudesse fazer a cerclagem.
Não interessa quanto que eu tinha na minha conta bancária, era só a fé ali naquele momento. Estávamos muito desesperados. Eu acho que Deus olhou e falou bem assim: “Eu preciso salvar a Latifa, senão eu vou perder um servo que eu tenho”. Porque eu não sei se eu ia aguentar viver com isso, sendo bem sincero. E aí ela conseguiu quatro médicos. A Latifa, na hora da cirurgia, começou a pular de um lado para o outro. Para mim, é como se ela estivesse dizendo: “Papai, estou aqui. Não me deixa morrer”. Com muito custo, os médicos conseguiram tirar 150 ml do líquido amniótico. Era um total de 450 ml de líquido amniótico, e a bolsa desceu. O nome é cerclagem heroica, justamente pelo fato de que tem muitas chances de não acontecer.
As 48 próximas horas eram cruciais porque poderia estourar a bolsa ainda. A Fernanda sentiu muita dor por conta da sedação. Toda hora ela se repuxava. Ela sentiu dor inconscientemente. Quando ela acordou também foi uma dor insuportável. Ela foi uma guerreira. Quando o médico disse: “Olha, a cirurgia foi um sucesso, a sua filha está intacta”, eu agradeci muito a Deus por isso.
A Fernanda está acamada em casa, em repouso absoluto, ela tem que ficar deitada e ir da cama para a cadeira de rodas lá. Estou dando banho nela na cadeira de rodas, levando-a ao médico. Temo vários empregados em casa, mas eu faço questão de fazer isso por ela.
Hoje a Latifa tem 28 semanas, faltam só nove semanas para ela nascer. Esse para mim foi o pior dia da minha vida. E a vida é essa. Uma coisa que todo mundo precisa entender é que dinheiro compra coisas, e o dinheiro é importante, você precisa ter dinheiro para ter a sua vida nos eixos, no mundo em que vivemos. Agora, as amizades, a sua fé, a forma como você leva a vida, a sua saúde, isso não se compra com dinheiro.
Alexandre Meirelles: É, o dinheiro te ajudou a ter um bom plano de saúde e poder dar todas as condições, mas geralmente tem muita coisa que papai do céu, lá de cima, aponta o dedo e fala: “Agora vai; agora não vai”. Legal esse depoimento. Obrigado. Que dicas você deixaria para os concurseiros, Rodrigo?
Rodrigo Calado: Eu falei sobre a disciplina e gestão de tempo, mas mais do que isso, muitas pessoas olham para o empreendedor de sucesso, para a empresa que alavancou muito, para o jogador de futebol, para o influencer, como pessoas extraordinárias e acham que só essas pessoas podem ser extraordinárias. Você também pode ser extraordinário. O que é ser extraordinário? É você ter uma pirâmide de necessidades ali. Você passou em um concurso público, está com a vida estabilizada, tem uma boa remuneração, você consegue ter um bom plano de saúde, colocar seus filhos numa boa escola, fazer uma viagem, se encontrar com seus amigos, ter casa própria. Você consegue ter uma vida digna. Eu acredito que se você correr atrás do seu sonho, mantiver essa disciplina e esse foco, e em hipótese nenhuma desistir, nem que você morra tentando, para mim você se tornará uma pessoa extraordinária, e será extraordinário também para toda a sua família que depende de você.
Alexandre Meirelles: Você já deu seu depoimento sobre a Fernanda, que é o sustentáculo de tudo. É aquela velha história: por trás de um grande homem existe uma grande mulher. Que recado você gostaria de passar para a Fernanda e para os seus pais?
Rodrigo Calado: Para a Fernanda – “você sabe que construímos tudo juntos, estamos há 15 anos juntos, o Gran tem 12, 13 anos de idade”. Eu me lembro que quando eu a conheci ela tinha 18 anos de idade e estava no segundo ano de faculdade, eu a levava para a faculdade, parávamos em um cachorro-quente para gastar uns 10 reais, que era o que tínhamos, e ela foi construindo tijolo a tijolo.
“Eu quero publicamente aqui agradecê-la. Obrigado, amor, por tudo que você fez por mim, pela família, por você ser essa pessoa extraordinária. Sem você eu não estaria aqui”. Eu falo isso com muita humildade, e é verdade mesmo, a Fernanda me transformou, ela tem um posto de sabedoria absurdo. A Fernanda tem uma inteligência de sabedoria de vida que dificilmente eu vejo em pessoas por aí, e essa inteligência é fundamental para o que eu sou hoje. Eu só tenho a agradecer a ela. Muito obrigado.
Para os meus pais, eles dedicaram a vida deles para mim. Meus pais deixaram de ter carro, de viajar, tinham ali a casa própria e a comida, e o restante era para livros, computador etc. para poder acreditarem em mim, e confiaram que era a educação que ia mudar a minha vida. Não estavam nem pensando neles. Então eu só tenho a agradecer. Se não fosse pelos meus pais, eu não teria estudado em boas escolas, não teria tido uma boa oportunidade, não teria ingressado no estágio, não teria conhecido meu sócio, não teria chegado aonde cheguei. A gente chega aonde chega por conta de várias pessoas que vão aparecendo na nossa vida. Eu fui conquistando vários amigos, várias pessoas as quais eu admiro, meu tio que me ofereceu a casa para morar aqui em Brasília, senão ficaria muito difícil para ir e voltar até Luziânia, o próprio professor Granjeiro que foi um grande mentor, o meu sócio. Há várias pessoas ao longo da minha vida, amigos empreendedores, amigos de infância que foram me ajudando a chegar até aqui, eu só tenho a agradecer. E também muito aos colaboradores, aos professores, a vocês, que fazem o Gran ser o que ele é.
Alexandre Meirelles: Obrigado. Este vídeo ficará no Youtube, espero que o Gran não retire do ar e ele fique lá por um bom tempo. O Tamir ainda é muito pequeno, tem dois anos, e a Latifa está por vir ainda. Quando eles tiverem seus 18, 21 anos, quando tiverem um pouco mais de senso crítico da vida, eu gostaria que eles assistissem a este vídeo. E o que você gostaria que eles pensassem sobre você?
Rodrigo Calado: Eu gostaria que eles compreendessem o fato de que, às vezes, a ocupação, o tempo que eu fico trabalhando, foi em prol de um projeto que está mudando a vida de milhares de pessoas. Eu gostaria que eles olhassem e ressignificassem isso, porque não é fácil você estar numa posição em que nós estamos, de dedicação. Muita coisa depende das decisões que tomamos de maneira estratégica da companhia, tanto o Gabriel quanto eu. Eu gostaria que eles compreendessem isso e que eles absorvessem os ensinamentos de constituição de uma família, de um trabalho com propósito, para que eles trabalhem sempre buscando melhorar o mundo de alguma maneira, e que eles deem continuidade, em alguma medida, a esse legado.
Alexandre Meirelles: Com certeza eles terão muito orgulho de você, do papai deles. Vamos prolongar para esse podcast continuar no Youtube por mais uns 50 anos. Como você gostaria que o seu nome fosse lembrado, Rodrigo Calado, e que desde já eu falo que de calado não tem nada?
Rodrigo Calado: Quero ser lembrado como uma pessoa extraordinariamente comum. E ser hoje extraordinariamente comum é entender o valor da família, o valor de respeitar a sua esposa. Estou com minha esposa há 15 anos e nunca a desrespeitei, nunca levantei a voz para ela, sempre nos demos muito bem e é com ela que eu vou ficar para o resto da minha vida. Não tenho dúvida alguma disso. Ela é quem me ajudou a construir tudo isso que eu tenho hoje. Minha vida é minha família e a minha casa está sempre cheia. Tudo que eu faço é com muito amor, eu me preocupo muito com a experiência do aluno aqui dentro do Gran. Há dias em que eu fico sem dormir, porque eu recebo algumas reclamações genuínas de alunos que estão passando algumas dificuldades na plataforma ou em algum curso específico, ou esperando algum conteúdo que não foi lançado na data, porque às vezes acontece. E recebo outras centenas de elogios também, mas é claro que fico muito preocupado com a experiência do aluno.
Que eu seja lembrado como uma pessoa que se preocupou com a vida das pessoas que depositaram o pouco de dinheiro que têm aqui dentro do Gran para mudarem de vida. De alguma maneira, ser lembrado como uma pessoa que buscou mudar um pouco o Brasil, mover um pouco da melhoria da qualidade de vida das pessoas, mas sempre com muita humildade, sempre como uma pessoa comum, que conseguiu, por meio da educação, mudar sua própria vida e a vida de outras pessoas.
Alexandre Meirelles: Deixe o seu Instagram para o pessoal.
Rodrigo Calado: Meu Instagram é @rodrigocalado.
Alexandre Meirelles: Obrigado. Agradeço a sua presença, foi bem legal conversar com você. Colegas, muito obrigado por terem participado aqui de mais um Gran Cast, nosso programa de podcast exibido no canal do Gran Cursos Online, todas as segundas-feiras às 19 horas. Hoje foi uma conversa muito legal com um dos sócios do Gran, e semana que vem estaremos aqui para mais um bate-papo, para passar muitos ensinamentos para vocês. Um grande abraço e até a próxima.